A DOAÇÃO Pag 6
Jardineiro riu do comentário de Júlio, comenta: _ Não há o que ensinar, devemos ser o que somos, com defeitos e qualidades, se a outra pessoa não aceitar é um direito dela, fazer o quê, Paciência.
Continua a falar da sua amada.
Ela não gostava do nome Levina, gostava de dizer que se chamava Maria, por ser devota de Nossa Senhora, todos a conheciam como Maria Paradinha, o Paradinha porque de vez em quando ficava parada olhando para o nada, parecia estar em outro mundo às vezes eu pensava que poderia ser aquela doença que a pessoa não escuta ninguém. –
Júlio o interrompe o ajudando no raciocino _ O Autismo ! - _É! Acho que poderia ser um pouco disso, mas ela não tinha nada de paradinha era um serelepe cheia de energia uma mulher elétrica. –
Jardineiro para de falar, procura na memória lembranças da sua vivência com Levina.
_ Estavamos indo bem, Dona Vera falava para mim prestar atenção em minhas amizades, dizia – “ Você e Paradinha estão causando inveja, mesmo sendo moradores de rua, vocês se envolvem com muita gente ruim. “ - eu nunca liguei pra o que ela dizia.
Voltei a beber acabei estragando plantas e dando vexames na floricultura Dona Vera precisou me espulsar de lá, continuei bebendo, não sei por quanto tempo fiquei emendando uma bebedeira em cima da outra, tanto que perdi noção de tempo se é noite ou dia, feriado ou dia normal ou mês, para mim é um tempo só, Maria sempre tentando me ajudar.
Quando diminuiu a bebedeira procurei o Zézão, a Maria tinha sumido, ele me avisa que ela foi pro hospital e não estava bem.
No hospital passei pela médica minha tremedeira era demais, quando perguntei como estava o estado da Maria ela me recrimina; _ Eu não sei quem é sua mulher, mas ter um marido destes deve ser um martírio, tem que parar de beber seu Arquimedes! – Ela preencheu a receita, dizendo _ Vou te passar uma medicação, vai te ajudar apenas uns dias o tratamento que precisa é esse, me deu um panfleto do AA (alcoólicos anônimos) ali vai encontrar a ajuda que precisa –
Depois da medicação encontrei Maria numa maca no corredor do hospital que estava abarrotado de doentes.
Quando ela me viu cobriu o rosto com lençol dizendo; _Não quero que você me veja! –
Falei: _ O que é isto mulher! Tá me estranhando! – Responde: _Não! Não é isso, fiquei banguela, perdi os dentes da frente, estou muito feia! – Rindo falei: _ Deixa de sê besta, eu também sou banguelo, esqueceu? – Ainda com a cabeça coberta fala; _ A médica falou que vou fazer quimio vou ficar careca. – Repliquei: _Para com essa bobagem mulher! A gente nasce careca e sem dentes, pra mim o que interessa é sua pessoa, de qualquer jeito! –
Ela se descobre dando risadas dizendo: _ Careca não! Nasci bem cabeluda minha mãe dizia, nunca fui careca! –
Fiquei feliz em ver que ela mantinha o bom humor, abracei e beijei sua mão, com o bafo que estava de cachaça ela não aceitaria beijos.
Conversamos sobre coisas amenas o movimento no hospital era intenso, tanto que nem ligaram para minha presença ali no corredor, uma enfermeira veio mudar os medicamentos me afastei um pouco para não atrapalhar.
Quando a enfermeira saiu me aproximei, Maria estava com um rosto sério, me falou: _Vamos ter um papo reto, preciso te dizer algumas coisas, Eu já parei com meu vicio já faz tempo, agora é sua vez, tem que parar entendeu! – Normalmente em situações anteriores eu levaria na brincadeira dizendo _Sim mamãe! – Ela ficava uma fera, mas daquela vez não respondi a situação não estava para brincadeiras.
Maria respira fundo, com um olhar muito triste me diz_ Ouvi a médica falando que o meu caso nem a quimio resolveria, falou que me mandaria para quimio apenas pra me dar esperança, eu perdi muito sangue, eu tive um aborto natural, não sabia que estava grávida. –
Ela começou a chorar e eu fiquei emocionado, eu poderia ser pai.
Apertei a sua mão. _ Essas coisas acontecem, Calma, somos jovens a gente pode tentar ter outro filho. – ela me deu um pequeno tapa no braço: _Será que não entendeu, estou no fim, Deus sabe o que faz o que seria desta criança, filha de uma drogada e um pinguço? –
Continuou chorando, eu não sabia o que dizer. – Com os olhos cheios de água me fala: _ Sonhei com minha avó, ela está vindo do outro mundo me buscar. – indignado, falei firme: _Para com isso! Cê ficou impressionada com a médica! E quem é esta médica pra falar que seu caso não tem jeito, ela é Deus é! –
Continua...