Corre, corre, corre!

Corre!

Conseguiu entrar, esbaforido, no último vagão do metrô. Que estava lotado, como sempre, naquela hora da manhã. O ar-condicionado ou estava com problemas ou a superlotação fazia com que não desse conta do recado; o certo é que o compartimento estava quente e abafado, e ele engoliu em seco e respirou fundo, sentindo que poderia ter uma crise de pânico.

Desacelera, desacelera...

Aos poucos, o coração voltou ao ritmo normal. Reconfortou-se com a ideia bizarra de que, se desmaiasse, não chegaria a cair no chão, já que estava rodeado - e espremido - por gente. "Se eu desmaiar, só vão notar na próxima parada, quando as pessoas começarem a se mexer e eu perder o apoio", pensou. Mas sentiu que as forças lhe voltavam, talvez pelo fato de apertar a pasta contra o peito. E a viagem seria curta, desceria dali à duas estações.

Na primeira estação, uma vaga de gente desceu por um dos lados do carro, enquanto outra maré humana afluía pelo lado oposto, ele no meio dos dois grupos, como o marisco entre a onda e o rochedo. Mas, aguentou firme; ia descer na próxima. Consultou o relógio: tinha talvez dez minutos.

A composição parou na estação seguinte e ele, praticamente colado à porta de saída, foi um dos primeiros a colocar o pé na plataforma e sair em desabalada carreira rumo à escada rolante.

Corre!

Na escada, foi subindo de dois em dois degraus pela esquerda, deixada livre pelos demais ocupantes para pessoas apressadas como ele. Já na rua, aguardou impaciente que o sinal fechasse e atravessou a pista correndo. O prédio ficava logo em frente e, como não era incomum, havia uma fila de acesso ao único elevador em funcionamento. Exasperado, virou-se para o porteiro presente:

- Bom dia, Francisco!

- Bom dia, "seu" Sampaio!

- Só um elevador de novo?

O porteiro coçou a cabeça.

- O outro quebrou logo cedo... chamamos a assistência técnica, mas como não era urgente, ainda não chegaram.

- Que saco! - Resmungou ele. E vendo que o sinal luminoso indicava que o elevador ainda estava subindo e talvez não conseguisse embarcar na primeira leva, tomou uma decisão: subiria andando!

Saiu da fila e dirigiu-se à porta de acesso às escadarias. Olhou para cima e pensou: são oito andares.

Respirou fundo, e, pasta na mão, começou a galgar os degraus em ritmo acelerado.

Corre!

- [18-12-2017]