A DOAÇÃO pag 4
Quando se aproximou, encontrou um homem sentado na marquise, sentou-se a seu lado dizendo: _Bom dia ou boa tarde não sei direito, meu nome é Júlio, podemos conversar? –
O rapaz apertou a sua mão falando: _Meu nome é Arquimedes, prazer, quer falar do quê? –Com dificuldades e até gaguejando o empresário explica: _ Estou procurando uma pessoa para doar uma camiseta, aceita? – Arquimedes o olhou como se não acreditasse no que estava ouvindo, a tristeza estampada no seu rosto impressionava, demonstrava ser uma pessoa muito sofrida e infeliz, pergunta: _ Por quê? Não lhe serve mais? – Júlio ainda inseguro no falar esclarece: _Não! Não é isso, esta em perfeito estado, a usei poucas vezes. – Diante do olhar curioso do rapaz continua esclarecendo; _Foi um presente que recebi, vivi muitas alegrias com ela. –
Vendo que Arquimedes ficou em silêncio esperando ouvir mais- diz:_ A verdade que tive muitas alegrias e muitas tristezas, agora quero encerrar esta parte da minha vida. –
Arquimedes respirou fundo como estivesse esperando ouvir isso há muito tempo, falou:
_ Posso vê-la? – Júlio, emocionado com mãos tremulas entrega o pacote. –
Arquimedes o abre lentamente, pega a camiseta a cheira, passa a mão procurando sentir sua maciez, sorri ao falar: _Esta mulher sabe dar presentes. Aceito sua doação, mas só as alegrias, não quero tristezas! – O empresário ri também dizendo: _Você está certo, eu também deveria ter ficado só com as alegrias. – Arquimedes já com um semblante ameno comenta: _A gente é assim mesmo, misturamos tudo, posso experimentar? – Júlio concorda fazendo um sinal com a cabeça. Ele sem cerimônia retira a camisa desbotada e mal cheirosa que usava mostrando um tórax esquelético com muita magreza, veste a camiseta e dobra as mangas, sorri ao dizer: _Ficou grande, mas damos um jeito, minha mãe sempre dizia ‘cavalo dado não se olha os dentes’ –.
Os dois dão risadas vendo que ele tremia muito, Júlio oferece; _Quer almoçar? –
_Não! Já que esta oferecendo, gostaria de pão com mortadela, na padaria não vou, já fui expulso de lá. –
_Tudo bem, já volto! – Indo para a padaria o empresário sentiu um grande alivio a sensação de dever cumprido o tomou por completo no estremecimento que sentiu quando entregou o pacote percebeu uma espécie de desligamento energético, ficou convicto que aquelas lembranças não o perturbariam mais, ao retornar com os lanches se surpreendeu com a mudança em Arquimedes, parece que estava diante de outro homem, seu semblante havia se modificado demonstrando alegria e nos olhos muita esperança, contrastava completamente com a tristeza de antes, disse para si- “Acho que esta camiseta tem algo de especial mesmo” lhe veio a compreensão de que o melhor medicamento é a atenção, o carinho.
Houve uma simpatia mútua, parece que já se conheciam e eram amigos de longa data.
Comeram os lanches gostosamente, pois já estavam com fome, Arquimedes comeu lentamente ao terminar falou: _Fazia tempo que não comia pão com mortadela, acho que vai ajudar a diminuir a tremedeira, ultimamente só cachaça e mais cachaça. – Riu mostrando que lhe faltavam os dentes da frente, já descontraído fala: _ Meu nome é Arquimedes, mas quase ninguém sabe, sou conhecido como “Jardineiro” porque adoro plantas e gosto de ser chamado assim “Jardineiro” – pergunta: _ O que aconteceu? Gostava desta mulher do presente? Brigaram? – Júlio respira fundo. _Sim! Apaixonei-me por ela, depois acabei perdendo, a vida interia corri em busca de dinheiro que não aprendi como tratar as mulheres, não tenho sido feliz em meus relacionamentos. –
Arquimedes dá uma gostosa risada dizendo:_ Cara! A coisa mais fácil é agradar uma mulher, é só levar com jeito que se consegue tudo delas. – Vendo o assombro de Júlio, diz:
_Eu também tenho uma doação a lhe fazer e gostaria que aceitasse. –
De um barbante grosso que usava como cinto para segurar as calças desamarra um pequeno chaveiro e o entrega a Júlio. _ Foi presente de uma mulher, acho que poucos homens neste mundo sentiram tanta felicidade como eu senti com Levina. – Júlio pega o chaveiro, vê que é uma peça bem simples, pergunta _ Porque quer doa-lo?
Continua ......