A DOAÇÃO PAG 3
Júlio começou a ficar cansado de tanto andar pelo centro da cidade em meio aos moradores de rua, procurando alguém para fazer a doação.
Até aquele momento não sentira no coração a quem deveria doar a peça. Alguns jovens notadamente usuários de drogas lhe pediram para pagar um lanche, estavam perto de um carrinho de cachorro quente, Júlio diz: _Podem comer o que quiserem aí, que pago. - Apareceram seis jovens, comeram lanches e tomaram refrigerantes, depois saíram agradecendo.
Continuou sua caminhada sem direção, porém com o objetivo definido, - Encontrar alguém para fazer a doação.
Sentiu um aperto no coração em ver tanto sofrimento, aprendera ao longo da vida não sentir dó de ninguém, sabia que todo ser humano tem forças ilimitadas em seu interior, com possibilidades de superar tudo, porém vendo tanta penúria se entristeceu.
Sentiu-se totalmente impotente em ajudá-las.
Auxiliando instituições conseguia mitigar um pouco a fome e a escassez de recursos, mas ali, via que a questão é bem mais profunda.
Aquelas pessoas precisavam de algo novo, algo que as despertasse em buscar a superação. Aumentou sua admiração por Amanda que em toda reunião dizia: _ “Temos que encontrar meios de despertar nessa gente a vontade de melhorar, em lutar por uma vida melhor, temos que parar de ficar dando o peixe e ensinar a pescar! Contratar profissionais do comportamento humano, psicólogos terapeutas ocupacionais e etc. É preciso fazer alguma coisa neste sentido!”. –
Júlio disse para si _ “De agora em diante vamos escutar com atenção o que ela fala”.
Começou a suar, pois o sol já ia alto, não sabia as horas, estava sem relógio pela movimentação nos restaurantes calculou que já deveria ser umas 12 horas.
O desanimo lentamente o foi dominando, começou a se questionar.
_Será que estava fazendo a coisa certa?
É normal alguém andar em meio a tantos necessitados procurando uma pessoa especial para fazer uma doação? Que loucura seria essa?
Será que não estava super. Dimensionando sentimentos, ou dando muita importância ao que na verdade não era tão importante?
Não seria orgulho ficar definindo para quem se deve fazer uma doação?
Acreditar que numa peça de roupa estão guardadas todas as emoções negativas é coisa de doido varrido.
E acreditar também que ao doar esta roupa iria se livrar de todas as lembranças é coisa de pessoa que não tem nem um pouco de noção da vida.
A sensação de ridículo o dominou.
Que loucura era aquela? Deixara todas as suas obrigações para ficar andando nas ruas procurando não sei o quê?
Ele que sempre fora um homem sensato com os pés no chão, dono de si, dono das suas emoções, ficou se perguntando:_o que fiz para entrar nesta Nóia? –
Começou a rir de si mesmo.
Reconheceu que tudo que se referia aquela peça de roupa desafiava a razão, ao bom censo, a lógica.
Parou numa padaria pedindo uma garrafinha de água, pois já estava com a boca seca, enquanto bebia a água se decidiu, _Vou entregar esta sacola para qualquer um, tomar um taxi e ir para casa acabar com esta bobagem. –
De repente lhe veio à mente a lembrança de iluminado professor que lhe ensinara muito sobre a vida, o Professor dizia: _Quando estamos vivendo uma grande dificuldade, quando já se esgotou tudo que poderíamos fazer, no exato momento que estamos desistindo entregando os pontos, dali para frente começaria a solução, mas como não prestamos atenção nisso, acabamos por fracassar. –
Júlio viu próximo à padaria uma loja fechada e na marquise havia alguns homens sentados conversando, com aparência de serem moradores de rua.
Resolveu tentar mais uma vez, dizendo para si “Quem sabe”?““...
Continua...