Alimento da alma

Quando Ramona pôs o pé para fora do carro e viu onde a irmã a havia trazido, começou a rir.

- Alimento da alma? É isso aqui?

O local não era uma igreja ou um museu, como ela havia imaginado a princípio. Era um restaurante de comida caseira sulista. Fechado.

- Você passou tanto tempo assim em San Diego que esqueceu o que significa "soul food"? - Inquiriu Loretta, braços cruzados e expressão de poucos amigos.

- Claro que não! - Defendeu-se Ramona. - Mas a nossa conversa foi sobre como você pretendia se reconectar com Carlos e fazer com que ele não desistisse de Los Angeles... pensei em algo mais espiritual... terapia de casal, sei lá.

- Essa é a terapia de casal que precisamos - atalhou Loretta, indicando a fachada do restaurante. - Está meio caído, eu sei, mas se juntarmos as nossas economias, podemos resgatar esse lugar. O ponto é bom, e você sabe que de cozinha eu entendo...

- Bom... você é a especialista em cozinha sulista da família... - acedeu Ramona. - Mas não basta ter só talento culinário para tocar um empreendimento desse porte.

- Eu sei que só isso não basta - arguiu Loretta. - Por isso a chamei aqui. Você é a mais racional das irmãs... provavelmente vai me dizer se tenho ou não capacidade de levar isso adiante.

Ramona a encarou e viu a aflição no rosto da irmã.

- Carlos significa muito pra você, não é?

- É mais do que o Carlos - retrucou Loretta. - Ser enfermeira é bom, mas não é o que eu quero fazer a minha vida inteira... acho que foi esta a conclusão que cheguei quando tive a conversa com Carlos e o convenci a não ir embora para Houston. Se ele puder trabalhar ao meu lado - e estou certa de que o fará - desistirá de vez dessa ideia.

- E ele também vai desistir de ser ator para virar marido de dona de restaurante?

A expressão de Ramona era cética.

- Eu encontrei o que estimula a minha alma - insistiu Loretta. - Espero que ele também encontre o dele. Mas se Carlos não estiver disposto a encarar este desafio comigo, eu vou fazer por mim mesma. E espero que você me apoie.

Ramona olhou para a casa de esquina, agora fechada, onde outrora funcionara um restaurante. Havia tantas variáveis que teria que levar em conta...

- Alimento da alma... acho que é um bom nome - concluiu.

- [14-12-2017]