O RIQUINHO
- O vestido chegou!. A madame Alcântara encomendou de Miami. O mordomo anunciava a boa nova aos empregados da mansão dos Alcântara. A Alameda Nova nunca foi tão festejada quanto naquela semana pré nupcial. O casamento de Bruna Alcântara e Eduardo Máximo seria o maior do ano. O colunista André Sinistrão delineava muitas páginas para o enlace de membros das duas famílias mais ilustres de Esperantina do Norte. A cidade interiorana estava agitada. As rodas de conversas giravam em torno desse evento social espetacular. A Folha Esperantina detalhava o enredo daquele momento único. O local da cerimônia, as jóias da família que a noiva iria usar, e o sapato PRADA, devidamente assinalado pelo colunista do importante tablóide. Ah! Não poderia deixar de citar o terno do noivo assinado por ninguém menos do que o estilista Roberto Almeida. As três principais páginas do tablóide destinaram o seu espaço para aquele casamento. Os detalhes da decoração, o buffet (bufete para Zé do Pato), e o Clássic Band chamariam a atencão de ricos e remediados. Esses últimos assistiriam apena pelo noticiário, é claro!. O pai da noiva era um rico comerciante de tecidos e quinquilharias que as provectas damas da sociedade adquiriam para as suas mansões. O velho Ednaldo Alcântara acumulou fortuna contrabandeando tecidos vindos do Oriente no passado,. Mas agora batia no peito para declarar a sua honestidade impar. A esposa dona Minervina com o seu dote de duas fazendas ajudou o ambicioso Ednaldo a multiplicar os seus bens. A união dos dois gerou a doce Germana que foi controlada pela mãe durante toda a sua existência. Vinte anos de pura afetação. A filha única detestava gente pobre e ambientes com perfumes baratos. As suas mãos magérrimas jamais moveu uma vassoura. Os pés sedosos nunca pisavam o chão. O salto alto sempre determinou a sua situação financeira. O seu guarda roupa fora montado por grifes famosas. Até as suas peças íntimas chegavam de encomenda da Europa. Nada de peças nacionais. O seu noivo Eduardo Máximo também era uma estrela naquela cidade. Ele sempre se apresentava com o sobrenome do bisavô: Valadares de Castro. Mas o uso era usado apenas nos momentos difíceis. Entende-se esses momentos por prisões por desacato a autoridade ou desordem. O garoto vivia promovendo arruaças na pacata cidade. A última foi mais grave. O ricaço dera um tapa no rosto do delegado Palmares. Os seus pais chegaram a conclusão que o seu filho aos 21 anos precisava agir como homem sério. Então as duas famílias firmaram um pacto para unir os dois filhos e logicamente as fortunas. O dia do enlace fora marcado para a última sexta-feira de setembro, em plena Primavera. Os pais do casal mandaram buscar todos os parentes distantes. Até a velha e ranzinza Dorotéia fora convidada. Apesar de ser contrária àquela ostentação, a idosa encontrou um motivo para sair de casa. Todos os 160 convidados não poderiam faltar ao casamento. Um promoter garantiria a presença dos parentes das duas famílias. O lugar escolhido para a recepção foi o Encantos e Sonhos. O colunista André Sinistrão recorreu aos dicionários para explicar os nomes dos noivos, o destino da lua de mel, que não poderia ser em solo brasileiro, e a importância dos bisavós dos noivos. O dia chegou finalmente. A igreja cercada de carros importados com os importantes ocupantes trajando roupas e sapatos caríssimos desfilaram no tapete vermelho. A cada passagem dos convidados os flaches iluminavam a noite de setembro. A cerimônia estava marcada para às 20 horas, mas claro passaria das 21 por causa do tradicional atraso da noiva. Tudo pronto. Padre, padrinhos, pais dos noivos e convidados esperavam apreensivos pelo evento. Após mais de uma hora de atraso do noivo ( a noiva já tinha rodado o quarteirão na limusine mais de dez vezes) todos ficaram preocupados. O celular do noivo estava desligado e a família dele desconhecia o seu paradeiro. Diante do tamanho atraso os seus pais imaginaram as piores hipóteses. O pai, influente, "ordenou" o delegado para iniciar buscas ao noivo desaparecido. Um contingente de policiais partiu noite adentro. Após as duas da madrugada os agentes da lei trouxeram o agora homem casado. Ele passou a noite no rende vous Castelo da Tia. O riquinho disse que fora sequestrado por facínoras que o deixaram desarcordado no ilustríssimo ambiente. A história foi bem absorvida pelos seus pais e os da noiva ( a noiva nem tanto). Porém soube-se mais tarde que ele mantinha um romance com Lucinha Quebra Coco, uma nova integrante do importante Castelo da Tia. Um mimo de lugar na opinião dele.