TAMANDUÁ NAMORADOR.
Em uma tarde, Dona Malvina estava desesperada. Não via a sua linda filha, aquela chamada de Esperança, não pelo substantivo ou adjetivo, mas era um apelido a uma simpática morena, de quase dois metros de altura, corpo esculpido, de olhos castanhos, cabelos cacheados e um lindo rosto. Seu nome era Sinthia.
Sinthia não gostava de ser chamada por Esperança. Em sua mente, ela pensava que jamais iria encontrar um namorado tão amigo, tão amável, tão bondoso e carinhoso como o Túlio, o filho do pescador de camarões.
Toda tarde, ia ela passear rumo ao rio, na certeza de encontrar Túlio. A certeza de que ela o encontraria era tão grande, que foi apelidada por Esperança.
Os seus pais eram muito rígidos. Não gostavam de Túlio, mesmo sendo ele um grande vaqueiro da fazenda vizinha. Era um ótimo rapaz, mas tinha um vício de cantar abrindo os braços. Suas canções eram tão bonitas, que disseram ser ele um grande cantor romântico da época, sem mesmo conhecer o pequeno sucesso vindo de dentro dele próprio.
Sinthia saia todas as tardes para seu passeio diário, mas sua esperança era encontrar
Túlio e reatar seu amor com ele, mesmo sendo contrariada por seus pais.
Seus pais estavam preocupados, pois, em um cupim, mais ou menos um quilômetro de sua casa, subindo uma ladeira acentuada, eles viam sua bela Sinthia passear naquele local. Antes de seu passeio, algo surpreendera a eles. Próximo ao cupim, enxergavam-se um movimento de alguém, quando chama outra pessoa por meio de gestos de braços.
- Olha, Maria. Nossa filha está encontrando com aquele Vaqueiro. Eu não estou gostando disso. Ela não é moça para casar com aquele “desgraçado”. Isso está me deixando bastante nervoso.
- Calma, Antônio. Nossa filha está muito triste. Parece que o mundo desabou sobre ela. O Vaqueiro é pessoa boníssima. Eu gosto dele. Você é que cismou com ele...
- A qualquer dia, eu dou um jeito nisto, retrucou o velho, cheio de raiva e rancor.
O tempo ia passando e os acenos eram constantes, mas somente nos fins de tarde.
O velho estava indignado. Sua linda Esperança, assim chamada, estava encontrando com o Vaqueiro e isso não era bom.
Durante dois meses consecutivos, Esperança era observada várias vezes. Os gestos, perto do cupim, eram um código de encontro entre ela e seu verdadeiro amor.
Sem uma paciência, seu pai pegou uma espingarda e disse que daria um jeito, naquele mesmo dia. Subiria até a colina, encontraria um lugar, ou seja, uma moita bem fechada de capim, carregaria a espingarda e mandava o Vaqueiro para o espaço.
Contra a vontade da mãe, o pai da moça colocou seu plano em ação. Escondeu, mirou bem para o cupim e ficou aguardando.
Neste dia, estava o velho meio cansado e deu um pequeno cochilo. Os gestos começaram aparecer e semelhante a alguém que cantava e gesticulava ao mesmo tempo.
- Hoje, eu pego você. Vou mandar você conversar com São Pedro mais cedo e quero ver se namora milha linda Esperança.
Mirou bem e antes de apertar o gatilho, viu que sua Esperança estava sentada próximo ao cupim e sua surpresa foi tão grande, que ao lado daquele cupim estava um tamanduá bandeira. Para se aquecer no final da tarde, ele abria os braços, ficava apoiado em duas patas e gesticulava as patas dianteiras. Este efeito, para quem estava longe, era semelhante a alguém cantando e gesticulando os braços.
O velho achou aquilo tão bonito, que nunca mais disse a Esperança sobre o Vaqueiro.
O tempo passou. O Vaqueiro morreu em um acidente de veículo e toda tarde lá se ia a Esperança passear perto do cupim, pensando e com uma pequena esperança de encontrar seu único amor.
Acadêmico José Carlos de Bom Sucesso – Cadeira IX – Academia Lavrense de Letras – 10/12/2017