Eu o perdi para sempre
Eu o perdi. Perdi para sempre, mas não como amante. Como amigo, meu melhor amigo.
Sabe aquela pessoa que te conhece melhor que ninguém? Aquela pessoa que sabe o que você esta pensando, sentindo, e sabe exatamente o que dizer para passar? Ela é a sua pessoa. Cuide dela, ame, abrace, pois um dia ela pode ir embora sem mais nem menos. Um dia ela pode sumir sem nem mesmo um adeus.
Eu tive um amigo que, meu Deus como dói dizer isso no passado, era como uma extensão minha, arrisco dizer que poderia ser minha versão masculina, ou eu a versão feminina dele. Uma troca de olhares era suficiente para saber o quanto o outro estava mal, e meia dúzia de palavras trazia uma compreensão que as outras pessoas não ofereciam, mas não era defeito delas não entender, era nossa qualidade sentir o que o outro sentia. Sempre que a vida apertava, a primeira pessoa que procurávamos era um ao outro, e mesmo quando fazíamos alguma coisa incorreta sabíamos onde conseguir apoio, nem sempre precisávamos estar em contato todo o momento, mas aquela dorzinha de cabeça dizia que algo estava errado com meu amigo.
Ele tinha o habito de estar sempre com o fone no ouvido, e sabia o quanto isso me irritava, quando chegava à escola eu tirava e ele me olhava com a cara feia e isso me fazia rir mesmo que eu estivesse em péssimo humor. Soltava piadas totalmente sem graça pra ele sorrir quando sabia que as coisas não estavam fáceis na sua casa, e ficava mexendo no seu cabelo que o deixava irritado, mas nunca bravo e sempre divertido. Teve momentos de ciúmes quando o vi contando segredos a outras amigas, e da parte dele também, mas éramos melhores amigos, ninguém nunca superaria o espaço que ocupávamos na vida um do outro. As pessoas me diziam que ele não estava bem, pois sabiam que eu poderia ajudar, e eu o procurava, ouvia, e dava alguns conselhos, o fazia rir e voltávamos pra junto dos amigos.
A única certeza que eu tinha do meu futuro era que seriamos um grupo de amigos para sempre, criaríamos nossos filhos juntos, continuaríamos a ir à casa um dos outros, sair juntos, sempre juntos. Mas isso não aconteceu, eu perdi meu melhor amigo sem mais nem menos. Fui atrás, tentei recuperar, tentei de todos os jeitos... Mas não consegui, eu falhei. Se uma faca tivesse rasgado meu coração, talvez tivesse doido menos, era como uma fogueira queimando cada certeza que eu tive durante nossa amizade, queimando cada esperança que eu tinha de um dia poder abraça-lo, de poder revê-lo, de lhe tirar o fone de ouvido ou bagunçar seu cabelo, queimando cada chance de ouvir sua voz dizendo novamente “tudo vai ficar bem”. Eu sinto sua falta, e as lagrimas teimam a escorrer pelo meu rosto ao lembrar-me de você, mal consigo impedir o choro convulsionado que vem logo em seguida quando finalmente a frase passa pela minha mente: Eu perdi meu melhor amigo para sempre.