CARA PÁLIDA GENTE
CARA-PÁLIDA GENTE
Havia sido convidado por um amigo de um amigo de um amigo à ser consultor de uma equipe com pretensões de cinema. Recebeu o argumento deles, algo a respeito das intempéries enfrentadas diuturnamente pela gente de sua etnia para se colocar nesse mundo .Como isso era comum, cioso de sua cultura extraída de sua mãe, achou o “job” algo fácil de atender. Foda-se sua bagagem, imaginou ao se ver no espelho, pois certamente era o nariz adunco e a pele moura quem deveria tê-lo garantido.
Chegou ao local das filmagens. Estranhou muito....Um galpão. A única natureza que podia associar a qualquer coisa do argumento que recebeu estava ali, enquadrada na calçada por alguns tijolos. Um pé de laranja para ele, um arremedo de folhas para quem tivesse pressa. Como todos.
- Ai...ainda bem que você chegou. – A moça de cabelos floridos diz – Estamos começando as filmagens e precisamos de você para ajudar a orientar.
- Estou ao dispor... – Responde
Dentro do galpão, uma parte considerável dele estava recoberta de pano verde.
- Olha Aqui a gente colocará um plano de floresta. - - Continuava a moça, com a voz paulatina, C-O-M-O Q-U-E-R-E-N-D-O-E-X-P-L-I-C-A-R-C-O-M-O - F-U-N-C-I-O-N-A para ele.
- Tá.... – Responde, lacônico.
- Então, a ideia aqui é fazer uma espécie de “videolog”, mas, saca?? Fazer algo que evidencia os problemas da comunidade indígena e ampliar para o “mundo real”, para a galera saber desse mundo e talz....
- Tá..... – Novamente, tentando entender o que seu estudo pode agregar ali.
- Oh, Carlos, por favor...Chama aí o Enzo que a gente já vai começar a filmar...
Nisso entra um índio.,, Corpo pintado...Cocar.....
- E então... – A produtora continuar.... – Ainda bem que tu está aqui para nos orientar....Aliás, já recebeu seu pagamento?
Ela estende uma sacola de papelão para ele. Ele pega, remexe. Dentro, um shorts adidas e uma garrafa de pinga.
Agora ele sentia vontade de falar.