CADEIRA DE RODAS
CADEIRA DE RODAS
Estava ali, anos naquela cadeira, sendo arrastado de canto a outro, vitimado por um AVC que paralisara suas pernas. Indas e vindas para qualquer lugar, o mais básico de suas funções sempre atendidas pela velada mulher que um dia o aceitou em sua vida e agora crucificava com seu calvário. Devoto, orava todos os dias para aquele fardo se tornasse mais ameno, um milagre improvável pois sequer se julgava merecedor do privilégio divino. Mas Deus é caprichoso e um fluxo de sangue começa a circular em suas pernas. Os músculos começam a responder. Com dor, aflição e surpresa, sem ninguém na sala para apoia-lo, decide tentar se levantar. Consegue.
A mulher na cozinha volta a sala com a sopa do dia, que caiu no chão prontamente.
- JOSUÉ.... ME ACODE, JOSUÉ....TEU IRMÃO AQUI JOSUÉ...Grita, desesperadamente.
Vindo correndo da casa de baixo, o irmão vê a cena que causou espanto na cunhada.
- BOTA NA CADEIRA DE RODAS!! BOTA NA CADEIRA DE RODAS!! – A única reação que lhe veio no momento.
- Não. Eu estou bem....É só acostumar – Ele tenta negociar, enquanto firmava o pé no chão.
No estardalhaço gerado ali, a filha corre para o local. Vê o pai tentando se equilibrar de pé, já imaginando aquele velho teimoso no chão, começa a ter um revertério. O Tio olha para ela e vê que teria um piripaque. Prontamente reage.
- BOTA NA CADEIRA DE RODAS!!! BOTA NA CADEIRA DE RODAS!!
Vendo a filha robusta caindo mais rápido que ela, a mãe estremece, põe a mão a testa e começa a ter seu próprio faniquito....O tio, cada vez mais desesperado, prossegue.
- NA CADEIRA DE RODAS!!!
Vendo o imbróglio que aquilo gerou, o pai senta no sofá, exausto, com a cabeça baixa tentando assimilar a situação. O irmão chega perto dele, põe a mão em seu ombro, tenta, o mais calmo que podia, consolar o irmão.
- Que tal na cadeira de rodas?