Não alimente os animais
Maria branca escreve com ponto na bochecha esquerda. Maria verbo.
Substantivo: o sobrado amarelo desbotado pelas névoas. Na barriga de Maria, os sapos começam a gritar às sete da manhã, hora do café. Foram tantos sapos servidos nas refeições, que Maria engoliu as palavras e elas não mais apareceram. Os médicos de Guilhotina do Sombreiro, cidadezinha praça e igreja, ficaram intrigados com o desaparecimento das palavras. Gente consternada com o sumiço colou cartazes de “procura-se” nos postes e nada.
A moça desde então passou a rezar para o sujeito da oração trazer os vocábulos de volta, mas nem deus ajudou.
O silêncio externo guarda um estrondo, alguma coisa partida. Só, porém não sozinha, ela cuida do jardim da memória e da casa descolorida. Nas paredes a decoração com garranchos, as falas interrompidas. A mãe foi suicidada pelo pai, porque numa ocasião disse o que pensava. O pai sumiu e ela tem a impressão que ele levou junto as palavras. Todavia os sapos ficaram para lhe fazer companhia e são exigentes! Ai que ela não os atenda, dá-lhe uma ânsia de vômito, o não dito querendo escapar. Contudo o sobrado tem paredes fortes o suficiente para segurar o grito. Maria gerundia pra lá e pra cá. Ponto final.