Sagrada Chuva

E ela chegô de mansin...

Bêjano minha paioça

Fazeno carin na prantação

E a terra dengosa

Se derreteno de filicidade...

Terra no cio...

Os pingo

Parece inté meu coração.

Pu entre as fôia e os gaio

Mais parece a pipoca na panela

E os zóio miúdo dos passarin

Feitio vaga-lume.

O corgo da Sombra

Ricibia nas veia

A vitamina sagrada.

Abundança e desejo

É a sede da rigião

Ô nasce... ô morre...

Nasce...

Na ribeira

O rio cospe na barranca

É o fêjão... é o mio...

E ela de mansin

Iscreveno no istio.

Do ôto lado rio

O Cumpade Onofre:

- ô cumpade!

Esse ano nóis vai fazê a capinada!

Eu e meus fio vai aí...

E o sinhore e os seus, vem aqui na nossa impreitiada.

Meu corpo inté arripia!

Meus zóio só tem uma dereção:

Pra Serra do Cabrale.

Ela lá quitinha...um isteio!

E a chuva no lombo

Feitio um pião no rodeio.

E ela rudeia daqui

Rudeia dali

Dispeja daqui

Dispeja dali

O cerrado reza...

Seus fruto ta ali.

Acho que vô drumi mais cedo!

Mais primêro vô agardicê a Deus

Fazê um pidido pra amanhã cedo

Ele sortá o sole um tiquin só

Pa mode aquicê a semente

E ela arrentá e broitá.

A Luzia já ta drumino

Os minino já sonha cum as vereda.

Vô pisá bem de mansin

Pa mode num acordá os minino.

Mais a Luzia...

Vamo vê quale vai sê o nosso distino.

Se tivé argum relampo

Num fais má

Dêxa os truvão raiá cum nóis

Mais alumia a prantação

Nóis qué vê memo a nôte

Os fruto da criação.

Saleve Deus!Salve Olorum!

Saleve as mata

E o grande pudê.

Sô fruto da terra

Sô pé de serra

Sô amanhicê.

Vô acordá inhantes da Saracura

Quero vê a belezura!

Da sinfunia da passarada.

Já amolei as inxada

Aperparei a tuia

Vai sê uma linda fartura!

Vô cumê um cuiscuiz

Tumá um café bem Quentin

O quêjo já ta no prato

No fogo fêjão e toicin

Pra um armoço daqueis

Tamem vô suá o di intirin...

Óia...

Ôceis me dá licença

Pruquê a roça me ispera.

Vô capiná cantano uma moda

E à nôte a viola vô pontiá

Cum a Teresa e os minino a minha roda.

E lá vem ela bem de mansin...

Feitio uma brisa prefumano o sertão.

É de imociná im vê essa magia

É alimento pa álima é uma lôvação.

É uma maravia!

Vê a chuva bêjá meu pedaço de chão!

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 25/11/2017
Reeditado em 06/02/2022
Código do texto: T6182180
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.