O segredo de Marygold [conto]
Quando Archie era só um jovenzinho, na Pequenolândia, sempre escutava da diretora da escola. “Se você fizer tudo certo, Deus sempre vai estar ao seu lado e tudo vai dar certo na sua vida.” E nisso ele acreditou sua infância inteira. Nunca atrasou uma lição na escola. Permanecia sempre em silêncio e prestando atenção na aula. Não cometia bullying com os coleguinhas. Para fazer o certo também na vida, e louvar a Deus, Archie aprendeu violão para tocar e cantar na banda igreja. O bispo, encantado com aquele talento, começou a se aproximar do jovem. A atenção do bispo fazia ele se sentir escolhido, especial por aquela figura tão aclamada querer estar sempre perto dele. Mais perto. Mais perto ainda. Com o pinto do bispo na mão de Archie. Depois com o pinto do bispo na boca de Archie. E no começo o bispo falava que aquilo era normal, uma provação do Todo Poderoso. Um segredo que se revelado só o prejudicaria. Que ele tinha que passar por tudo aquilo com força e fé. Chupando o pinto do bispo depois de todo ensaio na igreja. Duas, três vezes por semana. Até o fim, e tomar todo leitinho. Archie lutava com todas as suas forças para não gostar daquilo. Para vencer aquela batalha proposta por Deus e encarnada no pinto do bispo.
Em suas orações Archie implorava sempre por um sinal, um rumo que apontasse a bússola da vida para o norte novamente. Quando ele entrou para o grupo de jovens cristãos e conheceu Marygold foi como se Deus tivesse tocado seu coração e acordado todas as borboletas em seu estômago. Era como se agora ele visse uma estrada de tijolinhos amarelos em sua frente, e ela passava pela sorveteria do lado da igreja. Enquanto os pais de Archie e Marygold conversavam depois do culto, os dois aproveitavam aqueles minutos para se conhecer melhor. Caminhavam lentamente os metros que separavam igreja e sorveteria para estarem só na companhia um do outro o maior tempo possível. As conversas eram sempre respeitosas, onde constantemente concordavam em Deus como argumento para assuntos normais entre jovens: televisão, música, escola, vestibular, internet, os outros. Os pais, o bispo, a igreja, todo mundo via aquilo como a união perfeita. Dois jovens, que se conheceram ainda adolescentes na igreja, e viveram uma vida próspera e feliz para sempre. Era mais do que o sinal que Archie esperava, era a benção dos céus aos olhos de toda comunidade.
Foi num acampamento da juventude cristã que o previsível amor se concretizou com um tímido beijo. Tudo começou com um toque de mãos no Cine Deus da noite anterior. As cenas de crueldade em a A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, uniram os dois. Quando o filme acabou eles estavam abraçados em suas angústias com as cenas. Estavam se sentido amparados um pelo outro, mas também sentiram um significado maior naquele calor que trocavam, e no significado dos olhares que os cercavam. Foi um pouco para dar uma resposta a esses olhares que Archie se encheu de coragem para se declarar à Marygold depois do jantar, num quiosque entre o refeitório e a sala de orações. Ela deu um beijo na sua boca de breve três segundos como resposta e os dois entraram de mãos dadas para a prece noturna. Ela, e sua família, estavam orgulhosas de namorar o músico da igreja. Ele, e sua família, estavam orgulhosos dele namorar a jovem mais bonita e educada da igreja. Os dois desfilavam pelo culto juntos todo domingo, depois tomavam sorvete, além de saírem para comer lanche juntos no sábado a noite na praça.
Assim como o bispo falou, Archie estava superando aquela provação com força e fé. Mas o bispo começou a falar menos. Aquele segredo entre os dois, aqueles encontros secretos, já não aconteciam mais com a mesma frequência. Era como se Archie já não fosse mais especial. O bispo já não estava mais no quarto dos fundos da igreja no fim de todos os ensaios. Não atendia mais seu pedido por instrumentos e equipamentos para a banda da igreja. Não sorria para ele quando ele fazia uma grande performance em um canto de louvor. Não tinham mais palavras de motivação e consolo depois que o bispo lambuzava toda sua cara de porra. Archie começou a se sentir abandonado, além de sentir falta daquele momento de intimidade e prazer entre ele e o bispo. Intimidade que aos poucos ia aumentando entre ele e Marygold. Os dois já namoravam sozinhos na praça, e tinham longos momentos de conversa e respeito no sofá da sala da casa tanto de um como na de outra. Ela passou a preencher o espaço vazio que crescia com o distanciamento do bispo, e os hormônios da juventude levavam os dois a sensações que eles até então não conheciam. Nem a bíblia foi capaz de conter os desejos de toques que surgiam a cada pequeno gesto. Num desses momentos Marygold concordou em chupar o pinto de Archie, mas antes ele teria que chupar a buceta dela.
Depois daqueles instantes de amor e conhecimento, Marygold se abriu para Archie, e aos prantos contou que o bispo a levava sempre para um quarto no fundo da igreja depois da aula de fé no sábado de manhã. No começo Marygold só chupava o pinto do bispo, mas depois de um tempo ele começou a tocar sua bunda, seu peito, sua buceta. Então um dia que ela estava de vestido ele tirou sua calcinha e fudeu ela. Archie foi escutando aquilo e as borboletas no estômago foram virando urubus. O segredo secreto que envolvia ele e o bispo já não era mais só deles. Agora tinha uma intrusa. Merygold. Era ela que estava roubando toda atenção do bispo, atenção que era dele. Ele era especial. Ela era só a mulher que tinha o dever de estar ao seu lado. Era sua provação. E ele não estava vencendo aquela batalha com força e fé. Estava sendo abandonado por Deus. Estava perdendo. Perdendo para Marygold. Archie precisava se defender. Com força e fé. Ele pegou Marygold pelo pescoço com as duas mãos e a esganou até que ela parasse de respirar.