SUZANA E O TIGRÃO APAIXONADO

SUZANA E O TIGRÃO APAIXONADO

Depois de quase 30 anos de matrimônio, Suzana divorciou-se e experimentou novamente a liberdade de mulher descompromissada. Sair com as amigas, passear no shopping, frequentar barzinhos e até dançar no baile da terceira idade, também conhecido como desmanche.

Aproveitava o máximo. Não queria chegar antes das três da madrugada em sua casa.

Deixou de lado as preocupações e tarefas caseiras. A louça que esperasse na pia, a diarista que desse um jeito na limpeza da casa e nas roupas. Enfim, sua vida mudou completamente e ela parecia uma adolescente despreocupada e até mesmo um pouco desleixada.

Passou a frequentar o salão de beleza pelo menos duas vezes por semana. A aparência é muito importante para uma mulher solteira.

No restaurante dançante já tinha mesa cativa, pois era frequentadora assídua junto com suas novas amizades, outras cinquentonas também solitárias.

Daquele rabugento do ex-marido nem se lembrava. Parecia uma calopsita. Mal o sol se punha e lá ia ele para a cama, além de acordar, todos os dias, às cinco da manhã.

Mas não há mal que sempre dure nem alegria que nunca acabe. Afinal, as tantas primaveras vividas já pesavam em sua existência e a solidão nunca foi boa companheira. Começou a sentir falta de um par para dividir as alegrias e as tristezas. Não há graça nenhuma em apreciar o por do sol sem alguém ao lado e ela resolveu arrumar alguém para ocupar a outra metade de sua cama de casal.

Hoje tudo é mais fácil e prático. Quer arrumar alguém? Entre na internet. Há vários sites de relacionamento com opções as mais variadas possíveis. Tem para todos os gostos. Vai lá e bota sua foto mais bonita, de preferência aquela de uns 10 anos atrás e ... pronto! É só esperar pela flechada do cupido.

O diabo é que a tal flecha nem sempre acerta o alvo. Muitas vezes ricocheteia e nos acerta bem onde as costas perdem o honrado nome.

Suzana enfrentou diversas histórias complicadas, até o dia em que se deu bem.

Certo dia, viu o anúncio do “tigrão solitário” e resolveu enfrentar a fera. Um sujeito de São Paulo, cuja foto mostrava um moreno forte, de cabelos lisos e sorriso simpático. Comunicaram-se pelo Skype e ele sempre pedia desculpas pelos erros de digitação, pois não tinha muita prática com o computador.

Passado algum tempo de contatos constantes, o tigrão avisou que ia passar por Curitiba e queria encontrar-se com Suzana. Marcaram no trevo do Atuba, na entrada da cidade. Ele recomendou que ela sintonizasse uma estação de rádio através da qual ele lhe mandaria recados.

Perto do horário marcado, Suzana estava com seu carro estacionado, aguardando o tigrão. Ligou o rádio e não demorou muito para que ouvisse o locutor avisando: “Alô Suzana, se prepare, o tigrão solitário está chegando e tem muito amor para dar. Quando ouvir três toques de buzina é o tigrão chegando”.

Ansiosa e cheia de expectativas, Suzana mal conseguia respirar.

Um caminhão velho, carregado de bananas, apontou na curva da BR 116 e buzinou três vezes: “Fom...Fom...Fom...”

Suzana engatou a primeira marcha e pegou o rumo de casa.

Na próxima, vou contar a aventura da Suzana com o “executivo de paisagismo”.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 19/11/2017
Reeditado em 03/12/2020
Código do texto: T6176436
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