Encenação futebolística brasileira
Eu não vou me identificar e não usarei o nome de nenhum dos jogadeiros de futebol retratados aqui. Qualquer semelhante, é coincidência e interpretação de vocês.
Não faço mais parte deste mercado, por questões éticas, apesar de já ter participado infelizmente de grandes falcatruas e enganações.
Eu vou tentar ser o mais breve e sucinto para relatar qual foi o estopim para que eu abandonar este mercado.
Eu era um olheiro. Visitava comunidades, do Rio de Janeiro, algumas de São Paulo e poucas no norte, quando recebia algum sinal de quem tinha algum potencial. Os pobres garotos não faziam nada o dia inteiro além de jogar bola o dia inteiro, era o único lazer que possuíam. Quando eu notava um prodígio, tratava logo de perguntar à alguns conhecidos quem era a família dele, apresentava o meu plano de dar uma condição melhor e o levava para treinos, claro, pagando aos pais, entre outros privilégios.
Modéstia à parte, muitos jogadores razoavelmente conhecidos foram reconhecidos por mim. O mercado futebolístico é milionário, envolve vidas, contratos, o jogador passa a ser uma propriedade daquele que ele se vendeu.
O jogador, também, possuí um compromisso com uma turba que caso ele "vacile" no jogo, será odiado, e isso causa pontos negativos para o time, para o esporte em sí, e indiretamente nós que estamos envolvidos neste mercado sofremos a consequência.
Em um determinado dia, o nosso atacante principal, "vacilou" e perdeu dois enormes cruzamentos, era gol na certa. A turba, entrou em uma espécie de raiva coletiva, e logo começaram a entoar um cântico horrível, era perceptível como o jogador se sentiu ofendido e triste com a crítica daqueles que outrora o elogiaram tanto.
Ele era fundamental para as propagandas, para o time, para a platéia, para a mídia... Logo, outros empresários acima da gente começaram a nos cobrar. Alguma solução deveríamos tomar.
Mexemos os pauzinhos e combinamos um jogo com um time que era mais "fraquinho". Não foi tão difícil. O goleiro deste time adversário foi comprado "por fora" por trinta mil reais. Ele já estava ciente que era para deixar a bola entrar.
Não deu outra, nosso atacante fez três golaços, sendo que um deles foi de bicicleta.
"Ufa!" Pensamos, quando a turba entrou em euforia com esse falso desempenho.
Hoje, puxamos a orelha dele e passamos a exigir que se esforçasse nos jogos mais sérios.
Futebol é coisa séria.
Acredite ou não, o buraco é mais embaixo do que vocês pensam.