Riso a Toa
 
 
     Obeso, caminha no sentido da praça. Camisa ensacada e de mangas curtas. Bolsa preta com a alça cruzada por cima do ombro direito e por baixo do esquerdo.
     O sol se apresenta em traje de brilho nessa manhã de terça-feira de outono.  Proprietários de automóvel aceitaram o convite e saem à rua em desfile. Grupos de jovens fardados seguem a pé em direção ao grupo escolar no bloco maior da praça. Ao lado, no posto policial, militares conversam ao celular. Alguns populares correm no entorno e outros se exercitam em alarido na academia pública. O semáforo de acesso à avenida, em vermelho, congela o trânsito e abre a cortina do palco para os motoristas em corso.
     Ereto, o homem da bolsa lança a perna esquerda à frente e transfere o peso do corpo enquanto se curva. Sustenta pela calça a perna direita, levanta e posiciona adiante. Para e toma fôlego. Outra vez, ereto, repete.
     Vestida, não parece de pau e sim, uma perna morta que se mantém de pé e não anda; meia perna.
     Do grupo retardatário, uma estudante imita o andar do homem de uma perna e meia, enquanto os colegas escondem o riso com as mãos.

Lançamento na IX Bienal Internacional do Livro de PE - 2017