DEZ CENTAVOS
 
     Pela manhã, no entorno das nove, um deles segue rua a baixo. Aparenta uns sessenta. Alto, magro, pele escura franzida pelo sol. Nas mãos, triângulo e vareta de ferro produzem a melodia. 
     Hoje, se limita aos sinais de trânsito e subúrbios, onde predomina o casario e crianças que brincam na rua. A clientela foi engolida pelos apartamentos.
     – É necessidade ou ofício que resiste ao tempo por teimosia de uma tradição?
     Nas costas carrega o bojo de metal repleto da iguaria produzida a base de trigo, água e açúcar. O pacote possui dez unidades. Difícil compreender que alguém obtenha o sustento em tal comércio.
     – Onde mora? Terá esposa e filhos?
     Quem vai saber nesse Recife mascate e sem interesse na dor alheia.
      – Ei, aqui, cavaco!


 Lançamento na XI Bienal Internacional do Livro de Pernambuco 2017