A CHEGADA DO CAIXEIO VIGÁRIO

Padre Pedro fazia 40 anos à frente da paróquia da Mombaça, ele praticamente chegou junto da cidade, eles cresceram juntos, não existia Mombaça sem o padre Pedro nem padre Pedro sem Mombaça. Além de pároco da região do sertão central, era líder político da região, elegendo prefeitos e deputados fiéis aos seus comandos. Era um homem rico, tinha fazendas e era um grande criador de ovelhas, conhecido como o padre pastor. Tinha por costume se acompanhar de belas mulheres que cuidavam da sua paróquia, era um sacerdote com muita força no Nordeste, por vezes cotado para o bispado, por vezes recusou.

-- vou lá largar esse reino aqui, só largo pelo Reino de lá. Não quero ser bispo nem em Roma. Falava o vigário.

Pois num é que suas preces foram atendidas pelo seu superior, e padre Pedro bateu as botas de uma hora pra outra.

A comarca da Mombaça ficou sem pároco por seis meses, por causa da fama da região, que se matava um de manhã e guardava-se outro para o jantar. Até que enfim alguém se propõe a pastorear aquela ríspida região, um padre de Cabrobó, que por motivos de bebida, tinha se desgastado com a população local, como era primo do Bispo de Aparecida, sua mãe intercedeu pelo mesmo, acabando sendo nomeado para ser vigário de Mombaça.

A notícia da indicação do novo vigário fervilhava nas esquinas e praças da cidade, padre Bento, um homem de Deus era o que se comentavam à boca miúda.

-- foi o próprio papa quem indicou padre Bento. Dizia o prefeito.

-- será que padre Bento era igual ao padre Pedro? Comentava Mariazinha sorrindo, tapando o sorriso com uma das mãos.

A data foi marcada, primeiro de abril.

-- parece mentira! Comentava Jonas o fofoqueiro oficial da barbearia.

-- viva o padre Bento, viva o santo padre, viva o papa! Gritava Raimundo, o bebado corno da cidade, o dia todo.

Padre Bento pegou o trem na estação Central de Fortaleza às 3 horas da manhã, o trem levava políticos para Crato, uma reunião com padre Cícero, para apoiar e formalizar a candidatura do Coronel Távora para o governo do estado. Era um trem expresso, não faria parada em canto nenhum, somente a pedido do Cardeal Locke de Fortaleza, o trem faria uma parada em Piquet Carneiro, onde padre Bento iria descer e de lá seria conduzido até Mombaça.

-- não passa trem em Mombaça, pensou o padre, deve ser o o de brogodo essa cidadezinha. Sorria o padre.

O padre Bento já fazia três dias que não dormia, devido a viagem de Recife até Fortaleza, ele tinha um sono difícil e geralmente necessitava da ajuda de vinho para dormir, ele tava muito cansado, mais não conseguia dormir.

Quanto chegar em Mombaça vou dormir até o cú fazer bico. Pensou o padre.

Só ia descer em Piquet Carneiro dois passageiros, o padre Bento e o elegante e sabido caixeiro viajante Celio Fontenelle, o homem mais sabido do mundo.

Padre Bento estava com muita fome, não tinha tomado café da manhã, e perguntou para o condutor do trem.

-- que horas o trem chega em Piquet Carneiro?

-- 14 horas

-- tem almoço no trem?

-- tem sim, ai no vagão da frente

-- tem vinho?

-- tem sim senhor.

O padre foi lá no restaurante, comeu como um bispo, bebeu um litro de vinho, voltou para sua poltrona, encostou a cabeça na janela e dormiu como um porco, chega roncava. Só acordando em Crato, às vinte horas da noite.

Na estação Piquet Carneiro só desceu o caixeiro viajante, o qual foi confundido pelo motorista da prefeitura de Mombaça, Carlos, que vendo àquele bonito homem de paletó, pensou que era o padre.

-- eminência, o prefeito está esperando o senhor em Mombaça, pegando a mala do caixeiro e colocando dentro da rural Willys.

O sabido caixeiro não entendeu nada, mas como ia para Mombaça mesmo, entrou no carro e foi.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 30/10/2017
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