DIÁLOGOS NA TORRE DE BABEL

Eremildo Innocente e Vivaldino Sabichão, aquele o líder dos trabalhadores e este o mestre de obras, ambos trabalhando na construção da Torre de Babel, em Brasília, nos intervalos dos seus trabalhos, costumavam ficar trocando ideias, sentados ao lado de Longânimo Pazienza, o assistente social, que orientava o inter-relacionamento de todo o grupo empenhado na construção. Pazienza, um sujeito culto, estudante dedicado das filigranas sociais, portava sempre o seu caderno, onde sintetizava os diálogos entre os três companheiros, ampliando o vernáculo, sem quase se identificar nas anotações, pois tinha a intenção de escrever um livro sobre a cultura popular brasileira.

Decorrido algum tempo, vamos dar uma olhada no caderno do Pazienza, para dar vazão à nossa curiosidade e identificar a nossa provável empatia com um ou outro dos três personagens. Talvez eles nos ajudem a compreender melhor o Brasil.

Eremildo – Pois é Sabi, você viu só? Os caras da política livraram o Aécio, aquele coxinha burguês e ele voltou lá pro senado.

Vivaldino – É tudo a mesma porcaria Mildo. Eles estão fazendo a mesma coisa com o Temer, o ex-sócio do seu ídolo mortadela sapo barbudo, e a mesma coisa também com todos os outros corruptos. Eles na verdade, estão se protegendo a si próprios, pois todos eles estão com o rabo preso. “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão...”

Eremildo – Ué, mas você não é também um coxinha do psdb? Você votou no Aécio!

Vivaldino – Nós não temos uma escolha definitiva. Temos que escolher aquele que imaginamos seja o “menos pior”. Além disso, temos as nossas opções ideológicas, e na esquerda eu não voto, nem que o candidato seja canonizado em vida pelo Bergóglio.

Eremildo – Não entendo bem esse negócio de ideologia... Eu voto nos caras que ajudam os pobres e que são parecidos com a gente. Eles dão bolsa pra quase tudo! Como funciona essa tal de ideologia?

Vivaldino – O regime de esquerda é totalitário, e apenas em tese, prioriza o estado em detrimento da individualidade, elimina a iniciativa privada, a democracia e a própria liberdade dos indivíduos. O maior problema da organização social, em qualquer regime, chama-se “governo”, imagine então quando ele é absoluto e inquestionável. A prova de que o comunismo (disfarçado de socialismo) não funciona, é que ele faliu em todo o mundo, não restando sequer UM modelo que deu certo e que possa ser exibido pelos adeptos dessa utópica ideologia. Atualmente, restam apenas três teimosos seguidores dessa estupidez: Cuba, Venezuela e Coreia do Norte. Os três estão na miséria.

Eremildo – Espera aí Sabi. Se o comunismo é tão ruim, por que tem muita gente que ainda gosta dele?

Vivaldino – O comunismo (ou socialismo) é oferecido ao povo como um modelo que iguala todos os indivíduos, como que numa única classe média, em todos os sentidos. Antes de conseguir a sua implantação, eles organizam uma infiltração dessa ideologia em todas as áreas de atividades, especialmente na juventude e nas camadas sociais mais humildes e carentes, onde o intelecto é subdesenvolvido e não pode perceber a sutileza das suas artimanhas. Numa fase intermediária, de posse de algum poder, eles usam os recursos do Estado, distribuindo-os como esmolas sociais, criando um falso cenário de prosperidade, que, não sustentado por um verdadeiro desenvolvimento econômico, acaba levando o Estado à bancarrota, como aconteceu no Brasil. Não tendo capacidade de perceber esse embuste, essas camadas sociais permanecem iludidas, continuam acreditando na ideologia falida e que os líderes dessa ideologia são os salvadores da Pátria. Além disso, temos os comparsas dessas lideranças, como uma grande quadrilha, cuidando dos seus próprios interesses, engrossando os adeptos da ideologia falida.

Eremildo – Sabi, as pessoas não podem ser todas iguais? Não seria melhor assim?

Vivaldino – É claro Eremildo que a absoluta igualdade entre todos os Seres Humanos seria melhor. Mas a diferença entre nós está nas nossas próprias essências, como nossa propriedade intrínseca. As religiões, todas elas, pregam o amor incondicional entre as pessoas, que seria o ponto mais alto dessa igualdade, no entanto, as pessoas se hostilizam se odeiam e se matam em nome dessas religiões, como ocorreu no passado e como ocorre na atualidade. Em função da nossa própria imperfeição ética e moral, quaisquer ideologias, de quaisquer naturezas, que promovam a concentração de poder a uma ou a um restrito número de pessoas, fatalmente se desviarão para o lado negativo, com a intensidade proporcional à concentração do poder. Por isso, o ideal é que esse poder esteja diluído entre o povo e que este aprenda a administrar as diferenças entre as pessoas, através da educação, com início na Família e desenvolvimento no Estado. Os Países que mais conseguiram se aproximar dessas características são aqueles chamados do primeiro mundo, especialmente os escandinavos. Mas é preciso ficar claro, que a plena igualdade é uma utopia, impossível, portanto, de ser alcançada, em razão das nossas deficiências éticas e morais, e das diferenças que estabelecem a nossa individualidade, onde as qualidades não são iguais. Somente o povo, como um todo é capaz de promover grandes modificações sociais, mas ele é como o elefante... Não sabe a força que tem, quando está unido em torno de louváveis ideais. O povo francês, em um determinado momento da sua história, atolado na miséria, enquanto os nobres se banqueteavam no poder, impôs uma drástica mudança na sua história, que nunca mais foi esquecida pelos franceses.

Eremildo – No Brasil não pode acontecer a mesma coisa que aconteceu na França?

Vivaldino – O Brasil é um País, mas não é uma Nação no seu sentido mais profundo. O nosso povo é heterogêneo em todos os sentidos, e somente a seleção brasileira de futebol é capaz de despertar algum pálido e inócuo patriotismo. Além disso, nunca tivemos um governo preocupado com o próprio País, mas sim com a inclusão de parentes e amigos em todos os melhores escalões da administração pública, em todas as suas instituições, de forma a estar sempre participando da máquina governamental e das grandes vantagens que isso representa. São parentes e amigos por todos os lados, como governos hereditários, onde a eficiência técnica e profissional é marginalizada, e onde já nasce na origem, uma predisposição para a inépcia, a negligência, e a violação permanente das regras éticas e morais, acobertadas pela impunidade e pela vitaliciedade de todos os cargos ocupados, já que todos os órgãos do governo possuem interligações e interesses comuns. Entre eles há um intenso troca-troca de favores e facilidades, à custa do erário público, sem nenhuma preocupação, pois o envolvimento generalizado nas ilicitudes e no descaso aos interesses do País exclui a possibilidade de reação de um eventual e desavisado estranho nesse ninho de serpentes.

Eremildo – Uma coisa eu não entendo Sabi, se as coisas são desse jeito, então por que o Brasil ainda é forte na economia do mundo?

Vivaldino – Boa a sua pergunta Mildo. Excluindo o governo, o Brasil é um País abençoado pela Natureza. Solo fértil, água em abundância, clima excelente e invejável dimensão territorial. Como a ocupação do governo é privativa e de caráter hereditário, ele reserva para si mesmo uma estrutura marcada pela desqualificação, onde todos os valores, de quaisquer naturezas, não têm importância. Esses valores, que não integram o governo, migram para a iniciativa privada, onde o agro negócio em toda a sua extensão, as indústrias nacionais, um grandioso parque fabril, o comércio ágil e bastante diversificado, e um dinâmico e competente setor de serviços, reúnem grandes, médios e pequenos empresários, ousados e eficientes, que explicam a força da economia brasileira, que apesar da maior carga tributária do Planeta, de uma infraestrutura inadequada, de uma imbecil burocracia, enfim de um governo que atrapalha e que custa caro sem retribuir, representam as alavancas que fazem o gigante caminhar, ainda que escorregando na lama da corrupção endêmica. Esses empresários e suas eficientes equipes são os heróis verdadeiros, que carregam o País nas suas costas.

Eremildo – Puxa vida Sabi, eu não consigo entender direito tudo o que você fala. Mas se tem tanta ladroeira, por que eles não vão todos para a cadeia?

Vivaldino – Como já falei, o governo brasileiro é oligárquico, quase todos os seus integrantes, especialmente nos melhores e mais bem remunerados escalões, estão interligados pelos laços de parentesco, de amizades, de afinidade ideológica, de interesses financeiros, de troca de favores, etc., cujos procedimentos são replicados infinitamente, através das sucessivas gerações, configurando um permanente governo hereditário em todas as suas instituições, onde invariavelmente, sempre haverá uma comunhão de interesses que não deve, e nem pode, ser submetida à imparcialidade. Nesse contexto, na sua linguagem Mildo, todos estão com o “rabo preso”, onde o estilingue vira bumerangue, e então todos “fazem de conta” que não viram, não ouviram que não falaram que não estavam que não sabiam, mesmo que tudo esteja testemunhado, fotografado ou gravado. Aqueles que deveriam acabar com essa farra, apenas organizam encenações teatrais que procuram esconder a impunidade, pois na verdade, eles também participam da farra.

Eremildo – Mais, e a justiça brasileira como fica Sabi?

Vivaldino – Os eloquentes paladinos da justiça brasileira, mestres do flexível sofisma, que nos “encantam” nos noticiários da televisão, garantem a você Eremildo, assim como os professores das faculdades de Direito, que “todos são rigorosamente iguais perante a lei”. Eles também fazem parte dos teatrólogos, e como diz a sabedoria popular, “é melhor ouvir lorotas do que ser surdo” não é mesmo?

Eremildo – Tocou a sirene. Vamos trabalhar. Hoje à noite o meu time vai jogar. Vai ter encrenca, minha mulher vai querer assistir a novela. O salário tá curto, preciso comprar outra televisão. Pensando bem, podia existir a bolsa televisão, não é Sabi?

Vivaldino – É Mildo, pensando melhor ainda, eu devia ter tirado uma soneca no intervalo... Os governos sempre cuidaram de impedir a educação para mais facilmente iludir o povo, mas o tiro saiu pela culatra, e a ignorância cresceu, assumiu o poder e o País se iludiu...

Longânimo Pazienza – Caro Vivaldino, não podemos desistir. O semeador deve lançar as sementes ao vento, e este se encarregará de disseminá-las expansivamente. Algumas cairão sobre terra de boa qualidade e darão frutos. Imitando o vento, vou espalhar as sementes pelos recantos de todas as letras do alfabeto. Devemos acreditar que mesmo os textos considerados longos, possam ser lidos e compreendidos, mesmo que lá no fundo do nosso íntimo, o pensamento insistente... e assim caminham os brasileiros, rumo ao caos. Enquanto isso, aqueles que deveriam assumir o comando e por ordem na casa, continuam dormindo eternamente em berço esplêndido... Fico imaginando se os ilhéus de Tuvalu, condenados à submersão, pela expansão do oceano, resolverem invadir o Brasil, amparados pelas Orcrim, o que seria de nós... Vade retro Satanás!

Edgar Alexandroni
Enviado por Edgar Alexandroni em 22/10/2017
Código do texto: T6150160
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