O Lugar
“Fragmentos do Livro “O Mundo de Pedro”
O Lugar
O lugar era um vale cercado por montanhas rochosas, ao Sul na parte mais elevada, as rochas possuíam o formato de um homem com braços e pernas abertas, lembrando um frade. Por esse motivo e porque a formação do vale se parecia com um saco, às pessoas que ali moravam, o chamavam de “O Saco do Frade”. Admirando o frade, Pedro enxergava nele uma estrela irradiando luz sobre o imenso vale colorido por ipês, aroeiras, açucenas e borboletas brancas, azuis e amarelas, enfeitando a relva, formavam um inefável cenário de infinita beleza. Por cima do vale havia uma rota de aviões dirigindo-se para o Norte. A Segunda Guerra havia terminado, as aeronaves prateadas lembravam o conflito e Pedro observando o voo, imaginava aonde iriam sentindo uma saudade doída daquilo que nem conhecia.
Com a chegada das chuvas, podiam-se observar campos floridos com jequitibás, ipês, aroeiras amarelas e borboletas brancas e azuis cores preferidas de Pedro. Nessa estação anual havia completa transformação desse lugar árido e seco em um vergel cheio de flores. Aquele lugar era o seu mundo de encantamento e sonhos, onde procurava entender a vida e a natureza, interagindo com o sertão, passeando pelos prados montado em seu cavalo pedrês ou correndo na caatinga em companhia de Burlante seu cachorro, amigo inseparável.
Com seu jeito de criança, Pedro conversava com plantas, abelhas e animais que pareciam entendê-lo. Nas noites de lua clara Pedro contemplava o céu atapetado de astros e estrelas, acreditando com eles conversar. Sua família trabalhava na lavoura e criação de animais onde Pedro, ainda criança fazia pequenos serviços cuidando dos animais, levando-os à montanha onde havia água fresca para beberem; afugentando passarinhos da plantação de arroz ou colhendo mel de abelhas para a mãe. No tempo que restava, soltava a imaginação falando com pequenos insetos tipo calangos que buliam nos galhos secos à beira do caminho, e alerta escutava o triste cantar distante da acauã nas brenhas do sertão estorricado. Acreditava que eles entendiam a vontade dos homens e conheciam suas necessidades. Esse lugar era o sacrário de suas imaginações, sonhos e o início de uma longa caminhada em busca do desconhecido que só o tempo revelaria.
— E, se um dia o Sol não beijar a montanha? Certamente não haverá noite! Pensava o menino.
Pedro queria entender como o Sol passava todos os dias pelo mesmo lugar, na mesma hora, afagando a montanha. Para ele esse fenômeno guardava um grande mistério que necessitava desvendar e compreender. Quando contemplava o Sol com seus arabescos de fogo, a lua com sua magia e fulgurante claridade e o salpicar das estrelas, imaginava existir no alto um lugar bonito semelhante ao seu ali, aonde vivia. Absorto em pensamentos imaginava que, se as flores e árvores tem vida também podem falar.
— Com meu cachorro eu falo e nos entendemos, ele é inteligente e sabe ir sozinho conduzir as ovelhas da montanha. Todos os habitantes desse lugar escutam-me, disso eu tenho certeza, o menino falava para si.
Pedro imaginava existir um modo de escutar as plantas, os animais, a lua e as estrelas. Pelo menos o Sol já chegava pertinho dele todos os dias, depois se escondia atrás dos montes. Mas o menino queria saber muito mais, inclusive o que existia além da montanha, lugar onde o Sol se escondia todos os dias. Reflexivo, certo dia perguntou: Mãe quem é o Sol? — Ora menino que pergunta! Ele é nosso pai que vem nos clarear todos os dias. Se Ele não clareasse a Terra e a nós também, não poderíamos viver aqui no sertão e sem a sua luz a Terra seria escura tal breu, não enxergaríamos as belezas do sertão. Veja como o Sol é bom para os viventes aqui na Terra, aquecendo as florestas, equilibrando a natureza. E quando o Sol se despede à tardinha vem a Lua trazendo os nutrientes para a vida esplandecendo até nós nos fortalecendo com sua luz Divina encantadora.