Sacolão de Professora
Era quase meio-dia, Professora acelera os passos, ainda sentindo o estômago reclamando , teria que chegar em outra escola a tempo. Sabia que se fosse em casa, mal teria tempo para tomar um banho rápido e engolir algum alimento. Os afazeres domésticos foram jogados para debaixo do tapete, inclusive as atividades básicas como atenção ao filho.
- Amanhã, meu filho! Amanhã, mamãe brincará contigo!
Como será o amanhâ de Professora? Professora não era só professora. Era mãe, mulher, estudante, lavadeira, cozinheira, nas horas vagas ( se é que se pode encontrar esse momento) era também sacoleira virtual, enchia os espaços sociais de bugigangas, para mais tarde desempenhar o papel de cobradora. E quando assumia uma classe multiseriada, ainda teria que ser babá... só faltava carregar no colo.
Feliz, Professora prossegue sua labuta, entra sorrindo na escola. Conversa rapidamente com o porteiro, depois de uma passadinha na secretaria, vai para sala de aula, fecha a porta, deixando do lado de fora um sacolão que ela carregava nas costas. E a sua aula fluía.
Professora não parecia gente, mas Professora era gente, sim...
Professora sorria, chorava, cantava e silenciava ... Professora podia até não viver como gente, porque todo professor tem a sua áurea, sobrevive como anjo. Mas só quem percebe a áurea de um professor é quem o valoriza. É raro, mas há muita gente boa que reconhece o trabalho de um professor.
Um dia Professora ao justificar-se o pequeno atraso relatou que para chegar até ali, ela teve que abrir mão do almoço, porque precisou passar em um outro local. Ela estava cansada, pois havia corrigido mais de duzentas provas na noite anterior. De repente ela começou a contar como era o seu dia-a-dia e todo malabarismo que fazia para atender bem duas escolas em diferentes bairros, buscar a capacitação adequada com recursos próprios.... alguns alunos emocionados choravam baixinho, ela interrompe bruscamente:
- Oh, esqueci de deixar meu sacolão lá fora. Professora é gente!
Elisabeth Amorim