HOTEL GLOBO
Estava eu, debruçada sobre a envelhecida mureta do antigo pátio do Hotel Globo ao entardecer na minha amada cidade, João Pessoa. Contemplava a bela visão onde o sol liberava seus últimos raios e alaranjava o velho e histórico rio Sanhauá, que teimava em beijar carinhosamente as linhas de contorno da lendária cidade velha.
Tamanho explendor, trouxe-me reflexões agradáveis, aquela cena misturou-se às lembranças, meu pai foi a mais forte delas. Parei e tentei imaginar a emoção sentida por ele, olhando aquele panorama de serenidade, passando suavemente nas águas daquele rio, tal um cenário quando substituído em um teatro, onde o pano de fundo cai, surpreendendo-nos, pensei, que devia também tocar-lhe e ele devolvia aquele sentimento, musicalmente. Compreendi o que o tornava tão sensível, o som de sua flauta afinada,os chorinhos eram ouvidos com frequência, embalando corações apaixonados naquele lugar, quando pequena, morávamos nas mediações. Sorri com ternura,mergulhada em tal lembrança podia ver seu rosto dourando-se cada vez mais forte, naquelas águas, à pouco tão escuras nesse momento iluminadas. Lembrei-me de seu delicado sorriso, a flauta soando entre seus lábios, o menear de sua cabeça ao compasso da música. Embora tendo vivido pouco tempo ali,sendo eu a caçula, sinto orgulho, carinho. Reverencio o lugar,o tempo, onde histórias familiares tiveram suas origens e vivencia longa, berço onde a cidade nasceu.
A historia em certas ocasiões nos leva a uma indelével comoção, nos agrega aos fundamentos à base, à sentir que temos um tempo que está solidificado, marcado independente de qualquer situação ele continua lá, como vínculo que nossa alma não desagrega por estar plantado muito fundo vindo à tona inesperadamente, de forma singela, arrancando a alegria da alma introduzindo um delicado sorriso de amor e gratidão.