O quintal
Francisco Barretto dos Santos: homem simples, trabalhador, humilde, honesto. Pegava cedo no batente e voltava tarde da noite. O seu trabalho modesto consumia todo o seu tempo. Operário numa fábrica de tecidos onde tecia o seu pão do dia a dia. Pai extremoso, amigo, bom esposo.
Aos sábados, único dia com alguma folga, logo que regressava da fábrica ao cair da tarde, ia para o quintal da casa. O quintal... Um paraíso simples com cana caiana, carambola, jambo, jaca, manga, uma cacimba de agua deliciosa, uma cerca viva de casuarina, bananeiras, um galinheiro...
Ele cortava uma cana, descascava num ritual mecânico e seguro e chupava calmamente.
Depois ia tomar café. Café gordo com leite, pão, biscoito, bolo, batata doce, inhame, cuscuz, manteiga... Ele e a mulher dele.
Após o café, colocava a rede no oitão da casa, acendia a luz e logo Bilia, nos seus cinco anos, pulava no seu colo.
-Canta pra mim, papai!
-Canto. Era sempre a sua resposta. E começava melodioso, acariciando os cabelos negros e longos da filha...
Plantei um cravo branco
dentro de um gomo de cana
para tu lembrar de mim
que de longe também se ama
E cantava... Cantava... Outros filhos iam chegando: Paulo, Bibi, Biina, Mariinha, Toinho...
Ah! Foi um peixe que eu pesquei numa pescaria.
Botei no galinheiro ele se acostumou,
de tão acostumado até milho comia
e como um galo velho de raça criou.
Após as cantigas ele sentava na rede, descascava mais uma cana em roletes e dava à garotada.
As músicas eram lindas e do cancioneiro popular. Muitas de autores desconhecidos. Era uma festa de amor e paz. A criançada nos seus 5, 7, 9 anos se lambuzava de cana e carinho... A noite era sem tempo... Demorava a passar. Parecia eterna. Era muita a felicidade que invadia aquelas crianças...
Mas a cama os esperava e eles, embebidos de tanto carinho, tanto puro e doce amor, se recolhiam sem saber que a vida os espreitava, densa, tensa, dura, inexorável. E havia um destino a ser cumprido para cada um deles...
Plantei um cravo branco
dentro de um gomo de cana
para tu lembrar de mim
e que de longe também se ama.
Francisco Barretto dos Santos: homem simples, trabalhador, humilde, honesto. Pegava cedo no batente e voltava tarde da noite. O seu trabalho modesto consumia todo o seu tempo. Operário numa fábrica de tecidos onde tecia o seu pão do dia a dia. Pai extremoso, amigo, bom esposo.
Aos sábados, único dia com alguma folga, logo que regressava da fábrica ao cair da tarde, ia para o quintal da casa. O quintal... Um paraíso simples com cana caiana, carambola, jambo, jaca, manga, uma cacimba de agua deliciosa, uma cerca viva de casuarina, bananeiras, um galinheiro...
Ele cortava uma cana, descascava num ritual mecânico e seguro e chupava calmamente.
Depois ia tomar café. Café gordo com leite, pão, biscoito, bolo, batata doce, inhame, cuscuz, manteiga... Ele e a mulher dele.
Após o café, colocava a rede no oitão da casa, acendia a luz e logo Bilia, nos seus cinco anos, pulava no seu colo.
-Canta pra mim, papai!
-Canto. Era sempre a sua resposta. E começava melodioso, acariciando os cabelos negros e longos da filha...
Plantei um cravo branco
dentro de um gomo de cana
para tu lembrar de mim
que de longe também se ama
E cantava... Cantava... Outros filhos iam chegando: Paulo, Bibi, Biina, Mariinha, Toinho...
Ah! Foi um peixe que eu pesquei numa pescaria.
Botei no galinheiro ele se acostumou,
de tão acostumado até milho comia
e como um galo velho de raça criou.
Após as cantigas ele sentava na rede, descascava mais uma cana em roletes e dava à garotada.
As músicas eram lindas e do cancioneiro popular. Muitas de autores desconhecidos. Era uma festa de amor e paz. A criançada nos seus 5, 7, 9 anos se lambuzava de cana e carinho... A noite era sem tempo... Demorava a passar. Parecia eterna. Era muita a felicidade que invadia aquelas crianças...
Mas a cama os esperava e eles, embebidos de tanto carinho, tanto puro e doce amor, se recolhiam sem saber que a vida os espreitava, densa, tensa, dura, inexorável. E havia um destino a ser cumprido para cada um deles...
Plantei um cravo branco
dentro de um gomo de cana
para tu lembrar de mim
e que de longe também se ama.