O QUADRO
Euvécia pintou aquele quadro nos anos 50.
Ele ficava dependurado na grossa coluna da sala onde se avistava quando se abria a porta da casa.
Retratava uma mesa de jantar onde oito pessoas se serviam e bebiam animadamente após a chegada de seu irmão Élcio que morava em Paris. Junto com os pais, D. Florzinha e Seu Marcel, três amigos, Antonio, Dorival, Marcelina, a irmã Tetê e Euvécia, o jantar era só alegria.
Élcio fora para Paris estudar engenharia de ferrovia, que estava em ascensão no país. Contava esfuziante as histórias da universidade, das comidas regadas a bom vinho e queijo e dos passeios que fez pela Europa.
A mãe e o pai sorriam sem ser parar ao ver que o filho havia realizado o sonho de ambos. Eles tinham uma boa renda e puderam dar o melhor para seu primogênito.
Antonio e Dorival estudaram com ele e eram amigos desde pequeno. Marcelina fora uma namoradinha que ainda tinha esperança que reatar o namoro com Élcio.
Tetê, a irmã mais nova, era prometida para casar com um primo que morava em outra cidade. Não aceitava bem essa história, pois gostava de Dorival e namoravam escondido.
Euvécia, que ainda aguardava o príncipe encantado, era formada em Belas Artes e sempre gostou de desenhar e pintar. Desde pequena passava horas no seu quarto entre lápis, papel, tinta. Os momentos agradáveis sempre eternizavam em seus desenhos.
Esse dia fora esperado vários anos pela família e finalmente chegara.
As conversas, as risadas, o vinho derramado no vestido de Marcelina quando ela foi passar o prato de almôndegas para Élcio, as brincadeiras dos amigos, as sobremesas preferidas, o pudim de leite e o arroz doce da Badia, o cafezinho com sabor bem brasileiro e a oração de agradecimento dos pais e de Élcio.
Olhando hoje o quadro, ainda se ouve ecoando pela sala, o som das conversas, dos talheres nos pratos, dos estalarem dos brindes nas taças, das gostosas histórias e das deliciosas risadas.