Acabou a amizade
Luizinho e Tonho eram amigos de longa data. Conheceram-se quando ainda eram dois jovens sonhadores que tentavam a vida no interior. Estudaram na mesma escola. Freqüentaram os mesmos locais, conheceram as mesmas pessoas e ao longo dos anos tornaram-se homens de confiança um do outro.
Quando o Luizinho decidiu entrar para a política, Tonho o encorajou e o ajudou na campanha para a presidência de um Sindicato. Luizinho levava jeito para coisa e conseguiu um resultado expressivo.
Tonho casou-se primeiro e levou Luizinho como padrinho de casamento. Alguns meses depois, Luizinho repetiu o gesto. Não demorou muito para que ambos tivessem filhos e chamassem um o outro para compadres. Era uma amizade forte.
Luizinho era habilidoso na política e decidiu ir além e engatou a sua candidatura para vereador. Ele era um homem difícil de lidar. Idealista, moralista, apaixonado pela mudança e pelos seu povo, não foi difícil se eleger. Seu melhor amigo foi seu cabo eleitoral e depois se tornou seu assessor.
Tonho era um homem estudado. Tinha cursado enfermagem e era dotado de uma boa cultura, enquanto que Luizinho era um furacão popular. Brigava de unhas de dentes pelo que acreditava, chorava se preciso, e despertava a paixão do povo. Era uma dupla que se completava.
Vários dos projetos apresentados pelo vereador foram confeccionados pelo amigo. Não que Luizinho não tivesse idéias próprias, mas tinha dificuldade em colocar no papel, enquanto que o outro era mestre em pôr as idéias na folha branca.
Dois mandatos depois Luizinho decidiu concorrer a prefeito. Convenceu Tonho e lhe substituir na câmara. O pleito foi duro para ambos, mas apenas Tonho teve êxito. Luizinho então se tornava o assessor. Ela não era de muita serventia na função, mas tinha boa bagagem eleitoral e o mais importante era um amigo de confiança para Tonho.
Quatro anos depois Luzinho decidiu concorrer de novo. Tonho não concorreu para coordenar a campanha do amigo. Os dois juntos na mesma causa deram resultado e Luizinho tornou-se o manda-chuva do lugar.
Os primeiros meses foram difíceis. Luizinho nomeou Tonho para secretário. Foi preciso criar algo como uma mesada para ter o respaldo da câmara. Foi um bom governo, mas não o suficiente para garantir a reeleição. Os adversários estavam mais preparados e eles perceberam que se não jogassem conforme o jogo, perderiam. Fizeram vários acordos suspeitos com gente suspeita. Era a maneira encontrada para garantir o financiamento da campanha.
Tonho fez o que o amigo mandou, afinal precisavam se reeleger. Depois de eleito, a necessidade não mais existia, mas os esquemas prosseguiram. Luizinho entendia que precisava montar um pacto de sangue com homens poderosos para garantir o poder muito tempo entre os seus. Tonho disse algumas vezes que aquilo não ia dar certo, mas como ninguém lhe ouviu, ele entrou na dança e começou a lucrar junto.
Tempos depois a casa caiu. Tonho foi preso. Luizinho estava sendo investigado. Tonho pediu ajudar para o amigo que se vez de desavisado e o deixou mofando na cadeia.
Ele resistiu por um bom tempo, mas as coisas foram apertando e notando que não ia conseguir sair, decidiu entregar tudo e todos, inclusive seu amigo de tantos anos.
Contou coisas que muita gente já imaginava, dando tantos detalhes e apresentando tantos argumentos que ninguém ousava dizer que era mentira. Ou quase ninguém.
Luizinho negou tudo o que o amigo contou. Acusou-lhe de falso, mentiroso, frio e calculista. Fez discursos chamando o amigo de mentiroso. Mandou que expulsassem seu antigo secretário do partido.
Tonho respondeu. Chamou o amigo de falso. Disse que ele se achava dono do mundo, que era dissimulado e que estava preso na lama da falcatrua.
Enfim a amizade terminou e agora ambos se atacam da forma que podem. Esquecem que no fim das contas sempre foram amigos e nunca deixaram ou deixarão de ser farinhas do mesmo saco.