Frau Schneider na Capital

Ah! Aqui na capital é tudo muito doido. Ninguém dá bom-dia pros outros. A gente sai na rua, entra numa condução, ninguém olha para a gente, não estão nem aí. Ninguém se conhece, nem os vizinhos. Na mesma rua, às vezes no mesmo prédio, é cada um por si, querem mais é distância. Parece até que desconfiam uns dos outros. Gente doida!

Não sabem o que estão fazendo essas gentes daqui. Parece que não vivem direito. Todo dia, acordam correndo para ir ao trabalho; as crianças, para ir ao colégio. Pegam um carro, saem correndo pela rua, parecem todos desesperados. Buzinam, buzinam, às oito da manhã. Como é que pode alguém estar estressado já tão cedo, nessa hora?

Esses abobados trabalham, trabalham, só esperando para ir embora do serviço. No fim da tarde, saem tudo correndo para casa feito uns condenados, amontoados na condução. Quando chegam em casa, em vez de fazer um chimarrão, conversar com os vizinhos, se abostam num sofá. Ficam vendo tevê, duzentos canais, e não acham nada bom, ficam entediados. Ou se metem todos juntos nos shopping centers, compram um monte de coisas, só por comprar. Dali a pouco também não gostam de mais nada. Depois ficam doentes da cabeça e não sabem por quê.

Lá na Colônia é que é bom. Lá, a gente acorda quando o galo canta, tira leite das vaquinhas, depois toma café com o leite fresquinho, come uma cuca com chimia na mesa com a vó e o vô. Depois, as crianças vão para o colégio, e os adultos vão para o trabalho. Uns vão a cavalo, outros vão a pé, de carroça, de bicicleta, tudo mais tranquilo.

Aqui as pessoas andam sempre correndo, acham que tudo tem que ser rápido, tudo pra já. Não fazem ideia do tempo que custa plantar, depois colher. Têm tudo pronto no supermercado. Algumas crianças acham que o leite vem da caixinha, que as frutas dão o ano todo. Deveriam capinar uma roça, cuidar de uma horta, criar uns porcos. Gente tansa.

E essa gurizada de apartamento é um bando de bunda-moles. Eles se acham muito espertinhos, mas na verdade são muito burros. Não sabem fazer um negócio, fazer uma gentileza para os vizinhos, trocar uma coisa hoje por outra amanhã. Não sabem pechinchar numa compra. Vão nas lojas da internet, nem sabem de quem é, e já estão dando o número do cartão. Como é que pode uma coisa dessas?

E eles poderiam muito bem ser mais espertos. Aqui na capital, eles têm tudo na mão: o celular, a internet, o google, tudo automático. Não têm trabalho nenhum pra buscar uma informação, pra saber das coisas que precisam saber. Mas não, se algo demora um tantinho, já não presta. Tudo tem que ser para agora, não pode demorar.

A gente tenta falar com eles, mas eles mal falam com a gente, já estão no google, com a cabeça bem longe da vida. Gente tonta. Esse povo da capital diz que time is money, mas não sabe que assim é que estão perdendo o tempo deles de aproveitar a vida de verdade. Mas a gente é colona, mas não é burra: já dei um jeito de conversar com esses tontos daqui. Já fiz amizade com eles no tal de facebook.