Pink Floyd no sertão
Uma edição antiga de “Ana Terra” e o som do “Pink Floyd”, vindo do Walkman, eram a sua companhia no caminho para a escola. O conga pisava sobre os paralelepípedos fumegantes do sertão ensolarado, alívio nenhum era conseguido, o vento parava de soprar e a menina via figuras no ar quente que pairava naquela hora de forçada calmaria.
Nos montes que arrodeavam a cidadezinha o fogo ardia nas pequenas roças. O ar, agora, também carregava a fumaça vinda da capoeira que esturricava, a secura invadia pensamentos, a menina não tinha pressa, a vida carregava uma inocência que não se dissipava, era eterna como os verões sertanejos.
Uma rural Willys buzinou e de dentro do carro um homem ralhou a menina andando desatenta no meio da rua. A guria pulou assustada sobre a calçada da delegacia soturna, sem presos. Espiou pela fresta do janelão e o carcereiro cochilava numa sesta interminável. Da esquina do cárcere avistou a igreja no alto da praça, a construção antiga parecia cansada de esperar algum milagre, a pintura caiada desbotava e emprestava um ar de tristeza ao lugar.
Aos treze anos, era imune à melancolia que invisível entranhava nos velhos adobes que sustentavam aquele mundo. Comfortably Numb pela voz inebriante de Gilmour, flutuava na fumaça densa, imaginava histórias. O barulho de uma sineta, vinda do fim da rua, despertou-a, o primeiro tempo da aula começaria.
Apertou os passos, entrou na escola, guardou o livro e o walkman – retirou, apressada, o livro de matemática da mochila, já temendo a ira do professor. Aquelas paredes singelas, a exatidão daquela matéria, desconheciam a imensidão dos sonhos demasiadamente humanos que aquela menina carregava naquela cabecinha inocente.
Nos montes que arrodeavam a cidadezinha o fogo ardia nas pequenas roças. O ar, agora, também carregava a fumaça vinda da capoeira que esturricava, a secura invadia pensamentos, a menina não tinha pressa, a vida carregava uma inocência que não se dissipava, era eterna como os verões sertanejos.
Uma rural Willys buzinou e de dentro do carro um homem ralhou a menina andando desatenta no meio da rua. A guria pulou assustada sobre a calçada da delegacia soturna, sem presos. Espiou pela fresta do janelão e o carcereiro cochilava numa sesta interminável. Da esquina do cárcere avistou a igreja no alto da praça, a construção antiga parecia cansada de esperar algum milagre, a pintura caiada desbotava e emprestava um ar de tristeza ao lugar.
Aos treze anos, era imune à melancolia que invisível entranhava nos velhos adobes que sustentavam aquele mundo. Comfortably Numb pela voz inebriante de Gilmour, flutuava na fumaça densa, imaginava histórias. O barulho de uma sineta, vinda do fim da rua, despertou-a, o primeiro tempo da aula começaria.
Apertou os passos, entrou na escola, guardou o livro e o walkman – retirou, apressada, o livro de matemática da mochila, já temendo a ira do professor. Aquelas paredes singelas, a exatidão daquela matéria, desconheciam a imensidão dos sonhos demasiadamente humanos que aquela menina carregava naquela cabecinha inocente.