Descascando o abacaxi [conto]
A vida de Natália podia até ser conhecida como fácil nas más línguas, mas na prática a coisa não era bem assim. Quando um seboso cretino está querendo enfiar uma piroca de 15cm numa buceta sem o mínimo de delicadeza, nem jeito para coisa, fácil parece ser montar um satélite interestelar. Ele era grande, o banco traseiro pequeno. Natália tentou se abrir o máximo possível, apoiando a nuca na porta do carro e as pernas nos encostos de cabeça. “Ei belezinha, geme gostoso na minha rola”, era o mais próximo que ela tinha de amor e carinho. “Aíííííí. Meu Deus. Isso, isso, isso”, era tudo que ela podia falar e fazer para aquela merda acabar o mais rápido possível. O seboso era grande, não tirou a calça e mal conseguia se equilibrar no banco. “Acho melhor você vir aqui e sentar gostoso no meu colo.” Ele estava pagando, e queria poupar esforço, então sentou no meio do banco e abriu levemente a perna. Natália tentou enfiar o pau dele na buceta, mas era pequeno e ela não conseguia subir e descer e manter ele lá dentro. Ela teve que rebolar como um motor de fusca velho até o seboso gozar achando que estava comendo alguma coisa. “Pode ir agora, vadia.”
Natália desceu do carro e foi no banheiro do posto de gasolina que ficava no fim da avenida. Se limpou, se maquiou de novo, e voltou para rua. “Pelo menos o seu foi rápido. O meu último tinha vergonha de mulher e ficava me perguntando como fazia para enfiar um pau numa buceta.” A Sheila tinha cara de estudante de universidade católica, por isso era a preferida dos recém promovidos no banco. “Punheta eles um pouquinho e depois enfia na boca, eles gozam rapidinho.” A Natália era mais objetiva. Talvez por uma questão de experiência. “As vezes me sinto como a mãe deles. Vem cá que mamãe vai ensinar como faz.” Na esquina de baixo era o ponto da Pam e do Maria João. A de cima era da Joana e da Marta. Mas a avenida era grande, com espaço para quem quisesse trabalhar. Os carros vinham parando de farol em farol até acharem o que estavam procurando. Tinha para todo gosto. No rodízio que Natália e Sheila faziam para atender a clientela era a vez da Sheila ser a Cinderela do príncipe que aparecesse em busca de emoção.
Mas a melhor parte de trabalhar como uma profissional liberal do sexo era poder fazer o próprio horário, e as duas tiraram uma folga para fumar no ponto de ônibus. “A maioria desses que querem parecer machões gosta de levar uma dedada no rabo.” “Acho isso nojento.” “Eu também, e esse machões ficam violentos se percebem isso, então tem que tomar cuidado.” “É verdade, são pessoas assim que constroem bombas atômicas.” Conversa vai, conversa vem e as duas decidiram ir até o Bar Tô no meio do quarteirão pegar um rabo de galo. “Dando duro hoje meninas?” O Manolo nunca sabia bem como se expressar, mas também ninguém nunca sentiu maldade. “Aí, a última vez que dei duro ela tinha peitos.” A Sheila pegou o espírito da coisa e todo mundo riu. As duas acenderam um cigarro cada uma e terminaram a bebida. Depois voltaram para a rua e pararam na esquina à espera dos próximos clientes. Elas se abraçavam e se beijavam para chamar a atenção dos carros que buzinavam e gritavam alucinadamente. O vermute e a cachaça começavam a pedir passagem na avenida.
Não demorou muito e um carro de seis dígitos encostou no meio fio e ligou o pisca alerta. Natália olhou para Sheila que saiu rebolando e se inclinou em perfeitos 90° colocando meio corpo para dentro da janela do passageiro. “Uau. Você é um gatão. Quer se divertir?” “O que você vai fazer para me divertir?” Sheila fez caras e bocas contorcendo o corpo e falando sacanagens que seriam censuradas no Kama Sutra. “E sua amiga sabe fazer tudo isso também? Acho que com as duas ia ser ainda mais gostoso.” “Claro que sabe, foi eu mesma que ensinei.” “Quanto?” “Duzentos para cada.” “Chama ela e entra, querida.” Sheila tirou o meio corpo de dentro do carro e acenou com um sinal para Natália, que veio rebolando e sorrindo para os olhos do retrovisor. Ela abriu a porta detrás do motorista, entrou e se sentou abraçando ele por trás alisando o pau e beijando o pescoço dele. Sheila, por sua vez, se apresentou melhor esfregando os peitos na cara do dono da festa. O gatão engatou primeira e saiu com pressa. “Por mais duzentos tem um lugar aqui pertinho pra gente ir.” Sheila pensou em emplacar mais uma grana sublocando seu quarto. “Quero vocês duas aí no banco detrás mesmo. Sem muito espaço.”
Não muito longe do ponto das meninas o carro parou numa praça pouco iluminada. Sheila pulou para o banco de trás e começou a se pegar com Natália sensualizando como duas garotas de programa num filme sobre Los Angeles. Ele desligou as luzes do carro e tirou a calça enquanto as duas gemiam baixinho. Quando ele pulou para trás no meio das duas também já estava sem cueca e louco para mandar. “Me chupa aqui sua vagabunda.” Ele pegou Sheila pelo cabelo e enfiou sua cara no pau dele. Natália se assustou e tentou se afastar, mas bateu com as costas na porta. “Tá pensando que vai aonde? Você também vadia.” Com a outra mão ele agarrou Natália pelo cabelo e botou a cara dela junto com a de Sheila. “Mama, porra.” Ele esfregava a cabeça das duas contra a virilha sem que elas conseguissem ao menos abrir a boca. Natália tirou um canivete que carregava no bolso e cortou o braço dele, que soltou as duas. “Você está louca sua vagabunda?” Ele partiu descontrolado com socos na cara dela. O canivete voou para a chão. “Vou te matar sua vadia.” Ele deu um mata leão em Natália e parecia que ia estrangular ela. Sheila pegou o canivete e enfiou nas costas dele, que largou Natália e começou a engasgar. As duas saíram cada uma por uma porta e desataram a correr para longe.