Constantina Mentz de Gadot, programadora

Já dizia o gurizão aquele, príncipe da Dinamarca: “Palavras, palavras, palavras”. Palavras, ideias, conceitos, podem se fazer e se desfazer conforme a lógica que se escolha. Pegar palavras, juntá-las de um jeito mais ou menos convincente, obter um texto. O tiozinho lá do outro “O Príncipe” já disse algo assim. Alguém inventa uma jeito, diz que tudo funciona assim, acha meia dúzia de exemplos, faz uma boa propaganda, e no fim todo mundo aceita.

Por exemplo, em Matemática, tudo pode ser visto como conjuntos, categorias, elementos. Em Administração, as pessoas podem ser tratadas como recursos humanos. Em Economia, as pessoas e as coisas podem ser valorizadas como bens, ou produtos. Na Medicina, os pedaços do organismo podem ser entendidos como sistemas - digestivo, nervoso, urinário. Em Engenharia, partes da construção também são sistemas - estrutural, elétrico, hidráulico. Na Teoria de Sistemas, tudo são sistemas, simples como uma função matemática: entrada, processamento, saída. Sistemas bons são sistemas que funcionam. Se funciona, é bom; se é bom, funciona. É por isso que tudo é bom no mundinho dos sistemas.

Constantina Mentz de Gadot se tornou programadora de Sistemas. Foi um processo simples, que funcionou: pegar uma lista de cursos superiores, eliminar todos os inadequados, obter a única opção válida: informática. Na faculdade, cursar as matérias, estudar a valer, obter um diploma. Depois, redigir currículo, enviar para todas as empresas, obter um emprego. Mais tarde, estudar para concursos, passar nas provas, obter um emprego melhor, aqui. Bom, simples.

Para Constantina, tudo são sistemas, pois assim tudo funciona. Ela faz com que funcione. É da profissão. Pegar as palavras de uma linguagem de programação, juntá-las em uma sequência lógica coerente, obter um sistema programado. Pegar as demandas dos clientes, separar e analisar requisitos, obter um sistema de informação. Pegar outras demandas de outros clientes, analisar os requisitos, obter outro sistema. Constantina desenvolve pedaço por pedaço, demanda por demanda, parte por parte. Missão dada é missão cumprida. Esse é o trabalho dos programadores de sistemas. Funciona, portanto é bom.

Constantina não fica investigando como é que as atividades se integram, qual é o todo que elas formam. Não quer saber se o propósito do sistema é legítimo, se não é prejudicial ou contraproducente. Não vale a pena. Com usuários envolvidos, é inevitável: entra lixo, sai lixo. Eles nunca sabem direito o que querem, sempre têm ideias incoerentes, que não funcionam. Melhor não cogitar. Bom é o simples: pegar um objetivo qualquer, usar todos os meios para alcançá-lo, obter o objetivo atingido. Sempre funciona. Pegar uma pequena empresa, dedicar muito trabalho e esperteza nos negócios, obter uma pequena empresa lucrativa. Pegar uma megaempresa, aplicar muito trabalho alheio e esperteza própria, obter uma megaempresa lucrativa. Pegar alguém para alvo romântico, realizar um approaching automarketeiro, obter um cônjuge. Se funciona, é bom; se é bom, funciona. Vale para tudo.

Constantina Mentz de Gadot não pensa em crise; trabalha. Não fica remoendo escrúpulos quanto a meios e fins, isso não funciona. Nunca teve um pití. Não se importa se existe algo de podre no reino da Dinamarca. O processo é muito simples: pegar qualquer chilique ou dúvida moral, aplicar um processo deixapralaista “não é comigo”, obter tranquilidade e continuar programando sistemas. Nada acontece, feijoada. Sempre funciona.