COTIDIANO DE UMA MÃE ESPERANDO O PAI CONHECER O FILHO
No esforço de assoprar a lenha do fogão sentiu as conhecidas fortes dores do parto. Levou a panela para o fundo da chapa em lugar morno, recomendando para as crianças não saírem de casa e que a mãe voltaria logo.
Fez uma trouxa com alguns panos e correu tomar o ônibus no ponto próximo ao cortiço onde vivia. Mesmo em pé, no circular lotado, pode vislumbrar o Elevador Lacerda e o Mercado Modelo, ruas conhecidas desde criança, onde vende algumas bugigangas nas horas de folga.
Entrou na Sta.Casa com as dores ainda mais fortes. Duas horas depois, na amamentação, aproveitou a ausência da madre e sorrateiramente deixou a internação.
Chegou em casa pedindo a mais velha que acomodasse nos braços o novo irmão enquanto terminava o angu já atrasado.
Serviu as três filhas, tomando o recém-chegado nos braços que se fartou do leite que escorria abundante pelos peitos. Acomodou-o no colchão, sentindo um resto de dor ao agachar-se até o chão. Ato seguinte raspou e comeu o grudado no fundo da panela, reprimindo-se, pois, a permanência demasiada no fogo, mesmo que acomodado na parte morna havia trazido um gosto de queimado a comida. O resto não desgrudado colocou água para lavar a panela mais tarde.
Saiu ao quintal de terra, torceu a roupa esquecida no tanque estendendo as humildes peças no varal de arame farpado.
Adentrou a casa, arrancando uma folha do caderno da filha que já frequentava a escola e escreveu alguns garranchos: “Seu filho homem que tanto queria, chegou. Quando te interessar passe aqui pra conhecer”.
Dobrou o papel, passou cola encontrada na mochila escolar, arrematando com novos garranchos na capa: “Seu Joaquim favor entregar pro Zé quando passar aí pelo Bar. Deus te pague pela ajuda”.