EMOÇÃO

– Santinha, você sabia que está vindo uma tempestade muito forte hoje? – perguntou a dona da casa.

– Não sabia não, Dona Adelaide. Mas, que a chuva é forte estou vendo – disse Santinha.

– Sim – assentiu a mulher – então, termina o trabalho rápido que eu preciso falar com você.

– O que a senhora está precisando, dona Adelaide? – questionou.

– Estava costurando e não parava de pensar… – disse Dona Adelaide.

– Pensar em quê, dona Adelaide? – perguntou – não vai me dizer que vai me mandar embora – terminou temerosa.

– Não Santinha. Você é muito importante nessa casa. Ainda mais agora que o Aderbalzinho está com aqueles problemas – confidenciou.

– É verdade, dona Adelaide – concordou – e como ele está hoje?

– Está de cama. Você sabe. Não é fácil para ele – falou a mãe.

– Sim. Um menino tão forte. Esperto. Inteligente. Agora, isso – assentiu Santinha

– É Santinha. E hoje eu queria te pedir um favor – falou com voz de súplica.

– Pode falar dona Adelaide – disse prontamente, Santinha.

– Preciso que você fique com o Aderbalzinho, hoje. A chuva está muito forte e mesmo assim preciso sair – concluiu com o olhar tenso.

– Mas, dona Adelaide, onde a senhora vai com uma chuva destas? – perguntou Santinha alarmada.

– Vou ao posto de saúde buscar remédios para ele – disse – aquele remédio que Aderbal não pode ficar sem ele, acabou – concluiu.

– É claro, Dona Adelaide. Vá tranquila – disse a Santinha.

– Aderbal, Aderbalzinho? – chamou a mãe em tom de voz alto – O menino travesso gente – concluiu.

– Ele não responde, dona Adelaide. Vamos ver se está tudo bem – falou a Santinha já saindo da cozinha.

– Vamos Santinha – falou a mãe, aflita.

– Dona Adelaide, o que é isso? – gritou santinha – Aderbal está caído – concluiu.

– Santinha, pelo amor de Deus – pediu a mãe em pânico – esse menino sofreu uma descarga elétrica enquanto tomava banho. Chama socorro rápido – pediu.

– Não adianta dona Adelaide – falou Santinha com ar de desânimo – já não tem mais pulso.

– O que? Eu perdi meu filho? Socorro. Pelo amor de Deus Santinha – gritou a mãe desesperada.

– Dona Adelaide a senhora precisa ser forte – consolou Santinha.

– Ser forte? Perdi meu filho e me pede para ser forte. Lembra daquele trovão. Foi ele, Santinha. Foi ele… – dizia a mãe em lágrimas.

– Sim, pode ser. Mas agora não adianta lamento – advertiu – ele não deveria ter resolvido tomar banho na hora da tempestade – concluiu Santinha

– Mas, será porque foi tomar banho bem na hora dessa chuva forte… –falou a mãe.

– Dona Adelaide… – chamou santinha

– Já sofria tanto com essa doença terrível… – lamentou.

– Dona Adelaide… – chamou novamente.

– Não merecia um fim assim. Estava tão feliz. Com tanta esperança de melhorar... – não se continha em seu desespero.

– Dona Adelaide… – Santinha gritou bem alto.

– O que foi Santinha? – respondeu Adelaide.

– Dona Adelaide… Acorda. A senhora está tendo um pesadelo – explicou Santinha.

– Santinha, Santinha? – perguntou Adelaide confusa.

– Calma dona Adelaide. Está tudo bem – confortou Santinha.

– Santinha, cadê o Aderbalzinho? – perguntou a mãe.

– Saiu com a namorada – respondeu Santinha tranquilamente.

– Com a namorada? Mas o Aderbal tem apenas dez anos – falou a mãe sem entender o que estava acontecendo.

– Que isso dona Adelaide, o Aderbal já tem vinte e cinco anos – acalmou Santinha – O pesadelo da senhora foi dos bravos, heim – brincou.

– Santinha, Santinha. O pesadelo foi tão real que vi o Aderbal morto devido a uma descarga elétrica de um raio – disse a mãe aliviada.

– Dona Adelaide, a chuva é real – falou a Santinha – a senhora cochilou enquanto fazia a bainha da calça de formatura dele – concluiu.

– Santinha, você não imagina o quanto é difícil ver os filhos crescerem –confidenciou a mãe – a gente se sente tão sem chão, tão sem rumo – terminou.

– Bem sei o que isso quer dizer – assentiu Santinha com os olhos úmidos.

– É verdade, seus filhos também já cresceram. Já moram fora – foi dizendo Adelaide – mas a gente tem sempre uma alegria quando eles voltam para nos ver, não é verdade? – concluiu Adelaide com saudosismo.

– Sim, é verdade – concordou Santinha

– Mãe, cheguei – falou o filho que chegava – peguei uma chuva na estrada. Deixei a Paula na casa dela. Está tudo bem? – foi dizendo.

– Sim. Meu filho – respondeu a mãe aliviada.

– Dona Adelaide, essa é a alegria de toda mãe… – cochichou Santinha.

– Mãe, o que estão fazendo aqui no sofá!!!… – exclamou o filho.

– Santinha e eu estávamos lembrando de quando você era criança – disse a mãe com um sorriso saudosista no rosto – e hoje já é sua formatura – concluiu abraçando o filho.

– Sim, mãe. Minha formatura! – foi dizendo feliz – vamos que já estamos atrasados – saiu abraçando a mãe.

– Vamos – concordou retribuindo o abraço.

– Terminou a bainha de minha calça? – lembrou.

– Sim, está no seu quarto – respondeu.

– Ande rápido, menino, senão vamos perder sua formatura – falou Santinha comovida – sua mãe até pesadelo teve hoje – falou para disfarçar a emoção.

– Mãe, você é demais – falou Aderbal.

– Vamos, rápido Aderbal – disse a mãe – a Paula está esperando na casa dela? – questionou.

– Sim, mãe – respondeu dirigindo-se, ainda, a Santinha – Santinha, que bom que já está pronta também!

– Vamos, menino – falou santinha emocionada – não podemos perder um momento tão importante!

– Esse menino cresceu... Santinha, esse menino cresceu! – concluiu a mãe saindo junto ao filho.

NEUZA DRUMOND
Enviado por NEUZA DRUMOND em 02/09/2017
Reeditado em 03/09/2017
Código do texto: T6102549
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.