Cor-de-rosa

- Qual é o seu nome, doçura?

- Mary Rose Stephenson.

- Idade?

- Eu tenho... 25.

A atendente da agência de empregos, uma mulher gorda de meia-idade, ajeitou os óculos e esquadrinhou a jovem sentada na cadeira à sua frente. Mary Rose tinha uma aparência tranquila, cabelos cor de mel ondulados, cortados à altura dos ombros, olhos castanhos. Vestia um sobretudo antigo, cinza-pérola, com botões de madeira, sobre um vestido cor de palha estampado com florzinhas verdes, de mangas longas e faixa na cintura. O conjunto aparentava ser o resultado do reaproveitamento de peças do vestuário de alguém mais velho - a mãe, talvez - com o uso criativo dos cupões de racionamento do tempo da guerra.

- Foi você quem costurou esse vestido? - Perguntou, divertida.

A jovem pareceu ficar embaraçada.

- Fui sim, senhora. Usei sete cupões de racionamento. Mas, por quê? Ficou feio?

- Não, muito pelo contrário. Ficou extremamente gracioso. Você é habilidosa. Já pensou em trabalhar numa confecção? Começaria cortando peças, e quem sabe, poderia acabar desenhando roupas...

A jovem remexeu-se na cadeira. Não parecia muito à vontade com a sugestão.

- Senhora... na verdade, eu tinha outra coisa em mente. Servi na ATA. Sou piloto.

A expressão da atendente transformou-se em admiração.

- Bom Deus... uma piloto! Você fazia serviço de táxi aéreo?

Mary Rose aprumou-se na cadeira.

- Não exatamente, senhora... eu pilotava aviões de combate, da fábrica até as bases aéreas onde seriam utilizados.

A atendente entrelaçou os dedos, cotovelos apoiados no balcão, olhos fixos em Mary Rose.

- E depois da guerra, não havia nenhum serviço no qual pudessem utilizar o seu talento, menina?

- Infelizmente, não senhora. Muitos homens voltando da frente de combate. Mulheres-piloto não são mais necessárias...

A atendente suspirou.

- Na Grande Guerra aconteceu algo parecido. Nos incentivaram a participar da vida econômica do país, e depois que acabou tudo, nos disseram que a melhor coisa que poderíamos fazer era cuidar de casa e crianças.

Folheou algumas folhas datilografadas presas a uma prancheta de madeira ao lado do balcão e depois voltou-se para Mary Rose:

- Não há nada aqui compatível com o que seria justo e correto para alguém como você... mas se não se incomoda com um, digamos assim, rebaixamento, creio que tenho algo que pode lhe interessar.

Mary Rose inclinou-se para a frente na cadeira, ar de expectativa. A atendente prosseguiu:

- A London Transport está contratando motoristas. De ônibus. Você tem interesse?

Mary Rose balançou lentamente a cabeça em concordância.

- Eu sei como voar abaixo do radar, senhora.

- [01-09-2017]