O homem, a mulher e Matheus [conto]
[00:30]
Matheus está na base da escadaria que corta o quarteirão e liga a rua de cima a rua de baixo.
Uma mulher começa a descer a escada.
Matheus surge no meio do caminho tentando assaltá-la a ameaçando com uma arma.
Ele é surpreendido por um golpe pelas costas e cai desacordado.
A mulher e um homem arrastam Matheus até o porta-malas de um carro estacionado na rua e saem dali.
[01:00]
Matheus acorda deitado e amarrado numa mesa como se estivesse pronto para um desmembramento.
Uma mulher, com o nariz vermelho e o olho inchado, o encara.
“Você matou meu filho.”
“Não sei do que você está falando.”
“Seu assassino…...você matou meu filho.”
“Do que você está falando?”
“Você não se lembra de ter atirado no meu filho ou não sabe quem era o meu filhos dentre os que você matou?”
“Nunca matei ninguém……..quem são vocês?.........o que tá acontecendo?”
[01:15]
Uma toalha cobre o rosto de Matheus enquanto a mulher vira uma jarra da água, como quem enche um copo, entre seu nariz e sua boca.
“Confessa que você matou meu filho.”
“Eu nunca matei ninguém.”
“Claro que sim. Você era só um vigilante garantindo a paz no escadão.”
“O que você faz com uma arma?”
“É de chumbinho……..nem está carregada……...é só para assustar.”
“Assustar?...........como?............assim?”
O homem acerta Matheus repetidamente com a coronha da arma, até que ele desmaia.
[01:30]
Ele acorda com o homem passando amônia no seu nariz.
“Você matou meu filho por causa de um celular?”
“Nunca matei ninguém…...nem sei quem é seu filho.”
“Ele era o jovem que estava descendo a escada depois de sair do metrô e você atirou nele por causa de um celular.”
“Porque você não pode ter um celular ninguém pode ter………..é isso?”
“Não…..eu nunca matei ninguém.”
“Matou sim.”
“Você sabe o que os árabes fazem com quem é pego roubando?”
“Por favor…..não…..”
Empunhando um machado o homem decepou quatro dedos e quase metade do dedão de Matheus, que mais uma vez apagou.
[01:45]
Homem e mulher cuidam do ferimento na mão.
“Calma, ele vai confessar.”
“Já tem sangue para todo lado, você sabe o trabalho que vai dar para limpar isso depois?”
“Eu limpo com removedor depois.”
“Vamos ser mais limpos, liga o choque no saco dele.”
“Aí você vai limpar o chão todo cagado e mijado depois?”
“É melhor do que sangue.”
“Precisa de uma extensão maior que essa pro cabo chegar até a mesa.”
“Tudo bem, vou pegar uma maior lá em cima.”
[02:00]
Matheus acorda, assustado, com a amônia no seu nariz.
Ele sente o curativo na sua mão esquerda e os cabos grudados no seu saco.
“O que vocês estão fazendo?”
“Ajudando você a falar a verdade.”
“Quantas pessoas você já matou?”
“Nunca matei ninguém.”
Choque.
“Mentira. Você matou meu filho e quantos mais por causa de um celular?”
“Eu não sei quem era o seu filho.”
“O que você matou com um tiro na barriga, abatido como um animal.”
Choque.
Choque.
Choque.
“Porque você matou meu filho?”
Choque.
Choque.
Choque.
“Não fui eu.”
Choque.
[02:15]
A mulher pega uma tábua de madeira e começa a bater na cara e no corpo de Matheus.
“Confessa……..você matou meu filho……..a sangue frio……”
“Não……..nã……..não……”
“Matou sim seu desgraçado……...ele estava vindo para casa……….ele ia para faculdade……..estava tudo bem……….e você matou ele porque ele não quis te dar o celular………”
“Não……..nunca matei…….”
“Covarde……..você matou meu filho……….”
[02:30]
Com um potinho de amônia perto do nariz o homem acorda Matheus, que abre o olho com a expressão de quem está prestes a desmaiar.
A mulher joga um balde de água na sua cara, ele engasga e vomita sangue.
O homem levanta a tampa da mesa em 90°.
Matheus consegue ver duas prateleiras lotadas com potes de palmito gigantes com cabeças e um líquido amarelado dentro.
“Por favor……..me deixem ir………..eu tenho família…….”
“Olha só…….agora ele tem família……..é quase uma pessoa de bem…….”
“Rouba porque não tem trabalho, né?”
“Porque você não pensou nisso quando matou meu filho?”
“Eu não matei seu filho……...foi ele…..”
“Agora você lembra do meu filho……o valentão resolveu abrir o bico…..….sabe até quem matou ele……..”
“Foi você sim…….matou, matou sim…….você matou ele de todas as formas que você poderia matar…..”
[02:45]
Com três machadadas o homem arrancou a cabeça de Matheus do corpo, pegou ela pelos cabelos e colocou dentro do pote.
A mulher encheu o pote com clorofórmio e colocou na estante junto com as outras cabeças.
O homem desprendeu o resto do corpo da mesa, enrolou numa lona, e depois usou três cordas para amarrar tudo.
“Vou me livrar do resto deste traste enquanto você vai limpando as coisas por aqui.”
“Você disse que ia ajudar com o sangue.”
“Quando eu voltar eu ajudo, agora tenho que cuidar disso.”
“Já vi esse filme, você vai parar no bar e voltar já com o dia amanhecendo.”
“E quando eu voltar eu limpo o sangue, mas a bosta e o mijo são seus……...eu avisei do choque.
“E eu já disse que a gente tem que ser mais limpos……….vamos usar armas……….a gente já tem um monte.”
“Não………..quem usa arma são estes animais.”
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