DECISÃO

Ao amanhecer saiu de casa. A caminhada até o ponto mais próximo parecia durar uma eternidade.

Quando resolveu assumir aquele compromisso não imaginara que pudesse ser tão desgastante. A esposa não pode ir e havia deixado o filho doente.

O ônibus demoraria meia hora. Tempo que parecia não ter fim. Enquanto aguardava ia pensando na decisão que precisaria tomar.

Sua esposa havia dito que tivesse tranquilidade. Que tudo na vida tem solução. Que as soluções saem não se sabe de onde. Que no momento crucial elas se apresentariam.

Enquanto ia tendo seus pensamentos ouviu um jovem que dizia:

– A que horas o ônibus passa?

– Veja a placa – respondeu rispidamente.

O jovem não se perturbou e continuou insistente:

– Sim. Mas queria ouvir de sua boca – disse simplesmente.

Pensou naquela resposta.

A rua que cortava a transversal estava repleta de manifestantes. Na avenida, transito intenso. Não estava para conversas naquele dia.

– Queria saber apenas a que horas passa o ônibus – insistiu o jovem.

Prestou atenção no jovem. Vestia jeans e camisa gasta. Parecia ser estudante.

– Daqui a quinze minutos – respondeu.

– Que bom. Assim tenho tempo para conversar um pouco mais – falou.

– Conversar com quem se vai viajar? – perguntou.

– Com o senhor – continuou ¬– está muito tenso hoje e precisa de alguém para ajudar a tomar uma decisão – concluiu.

Ficou atônito. Como poderia um jovem, com tanta audácia querer lhe ajudar a decidir algo se sequer sabia o problema?

– Sei que está atordoado com a decisão que vai tomar – insistiu – por isso estou aqui.

Fechou os olhos. Realmente não faltava mais nada. Mas, para dar fim àquela conversa disse:

– Pois bem, pode falar – assentiu com os lábios travados.

– O senhor hoje saiu de casa para tomar uma decisão difícil. É verdade que as decisões difíceis são mais fáceis quando elas estão em âmbito neutro – ponderou – mas, existem algumas que é preciso que sejam tomadas no mais íntimo de sua família – concluiu.

– Muito bem, aplausos – falou de forma irônica.

– Não se preocupe comigo – relevou – sei que está aborrecido. Volte para casa e compreenderá o que disse.

Olhou para o outro lado. Voltou o olhar para o jovem para dar uma resposta à altura. Mas, ele não estava mais lá.

Ficou com o pensamento perdido. O ônibus chegou. Pisou no primeiro degrau. Desistiu.

Retornou para casa. Passou em meio à manifestação. Ia atropelando às pessoas caminhando em sentido contrário. Sentiu inesperadamente uma pressa de chegar em casa. Quando galgou o primeiro lance da escada percebeu que algo estava errado.

Seu filho tinha entrado em estado de choque devido a alta temperatura corporal. A esposa, em prantos, não sabia o que fazer.

Pegou o filho nos braços. Tirou o carro da garagem e saiu para o hospital. Lembrou-se do transito intenso. De quanto tempo gastaria para chegar ao hospital se dependesse daquela via. Pediu ajuda a uma unidade móvel de atendimento de urgência. Deu entrada nos hospital dez minutos depois. O filho, medicado, foi restabelecendo os sentidos.

– Senhor, se tivesse demorado dez minutos não sabemos se teria seu filho de volta – disse o médico - tomou a decisão acertada – concluiu.

Olhou para cima. Não sabia como agradecer por ter tomado aquela decisão. Em silêncio, agradeceu ao seu anjo, por ter direcionado a sua decisão. Sorriu entre lágrimas.

Foi a decisão mais acertada da sua vida.

NEUZA DRUMOND
Enviado por NEUZA DRUMOND em 27/08/2017
Reeditado em 20/09/2018
Código do texto: T6096860
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