Ando esquisito de mim

Pés quentes na areia gelada das 8hs da noite.

Brasil parece uma mercearia a céu aberto, que o sol queima, feito faca, aço vermelho, nos olhos do povo. Quando parei pra resmungar do dia da escola que não é mais como 2000s, as professoras estavam cansadas. Pela noite fomos comer a janta preparada no restaurante da Rua Ipiranga e senti que você era mais esperançoso que eu. Os jornais avisavam das más notícias. Não sou pessimista, mas por hoje, deixa eu ser quem eu quiser. A América Latina entrelaça à confusão dos dias soltos e vagos de não saber reinar na terra do povo. Povo esse que sente a solidão ao peito, mas dança feito sorriso ao vento, sem saber direito o que fazer. No ônibus ouço a história do andarilho que só tem o que comer por hoje e sinto o cheiro da desarmonia dos teus enganos. Somos pequenos e perdemos toda a grandeza da profundidade do sentimento bom.

Fugi para o Uruguai, correndo atrás da oportunidade que não bate mais na porta. Porque Deus? Por que só dívidas e falta de esperança. Não, por favor, não me chame de pessimista. Minha geladeira anda vazia e meus olhos andam com problemas de enganos. Não encontro mais locais tranquilos e sinto raiva disso. Sinto ódio de não saber o que fazer por agora. Mas saiba que ainda penso no amor. Minhas histórias são velhas hoje pra você que já escutou tanto de mim, tanto da vida. Senti que as voltas dos ônibus buscam os mesmos olhares do passado, porque a era de felicidade anda meio esquecida nos interstícios das aventuras recheadas de motocicletas e terra batida. Eu não sou quem pensa quem sou, não sou ser, não sou forma. PARE de refletir dos porquês ou das razões de adivinhar o que quero falar. Lá no fundo da consciência não sou quem precisa escutar e não sei o que dizer de ti sem mim, e de tu sem ele. Só estanque e deixe a brisa abrir novo caminho na emoção do coração.

Que coração? Que coração, senhor? O que quer falar?

Não sei o que quero falar.

Pela estrada verde manchada de laranja, nem a solidão tomou conta disso. A madrinha morreu hoje pela manhã e eu nem sei se lembro como se chora. Porque as mágoas já não são importantes se o maior segredo eu ainda quero descobrir. Quando se quer algo que não se sabe, a loucura fica à beira do ser. O ser que se diz saber de tudo, pensa sem querer que nada foi em vão, mas não sabe o que dizer. É esse incômodo de não saber se pronunciar ou saber amar que desola o coração, porque não sei outra palavra pra coração, não sei o que mencionar quando já nem sei escrever direito. Não consigo, simplesmente, não consigo.

Deita no meu colo e olhe para o mar que já vive milhões. O céu dos meus olhos já chega por aí às seis horas do entardecer, esfriando os corpos estirados na areia e os pensamentos vagos do anoitecer. A solidão deve ser compreendida como universo de passagens. Eu serei o pó renovado da boa lembrança do amanhã. Reflexões filosóficas param por instantes só para sentir como é se sentir perdido. Do peito saem mágoas, mas ficam as lágrimas que se diluem com uma alegria de sentir por instantes imerso na frouxidão do crepúsculo rosado que cai dentro de mim. O sol que queimava o peito, sai como sopro pelos olhos arrasados de uma gratidão estranha. Não sou somente desesperança, sou sussurro que arrepia a pele sem entender ao certo o que sentir.