Droga permitida, estás servido.... saúde!!!!
Trôpego, cambaleante ele tentava subir aquela ruazinha.
Seu cérebro ainda lhe enviava lampejos de direção e sentido para tentar chegar ao lar. Barraco pobre, escorado, caindo, sem luz, sem pão, sem nada...
O corpo ia para um lado enquanto que o sistema nervoso tentava de forma embaralhada dar comandos aos membros inferiores que relutavam em obedecer.
Com o peso, o corpo pendeu sobre as pernas e em largas passadas e tropeços até a prevista e inevitável queda. Os braços, ainda tentaram reagir a um último impulso, os quais tardiamente buscavam agarrar-se em algo no ar.
De forma ridícula e grotesca estatela-se no meio daquela viela.
Sangra-lhe a têmpora. Tenta ainda engatinhar obedecendo a um último comando cerebral. Perde muito sangue. A ferida não é profunda mas fora suficiente para romper-lhe uma artéria, de cujo rubro jorro lhe é arrebatada lentamente a vida. Sem forças, não grita, não pede, só murmura ininteligíveis grunhidos até a total inanição.
A bruma da manhã revela o dantesco cenário.
Aos poucos o aglomerado de pessoas, conhecidos e o choro da mulher que tanto lhe pedira para buscar socorro àquela doença implacável. Os filhos ainda pequenos choravam enquanto o rabecão acelerava deixando a poeira a encobrir mais o sangue seco da rua.
Ora bolas, que isso importa, foi mais um a engrossar as estatísticas, até que um dia quem sabe reconheça o estado e preocupem-se as entidades públicas do custo social da livre droga. Quiçá um dia, sequer do presidente exemplo vil teremos mais!
O dono como sempre abre o boteco, a cachaça indiscutivelmente a melhor:
amarelinha, com imburana,
com mel, com caraguatá,
envelhecida no corote de sassafrás,
de Minas, do Ceará
e até mesmo de Guaratinguetá... a espera de mais uma vítima para tomar seu último gole... e o lamento de mais um lar entristecido e mais cidadãos condenados e relegados à penúria dos deserdados, a depender da sociedade que luta e chora incapaz de vencer tanta insensatez.
No senado e na câmara, mais um escândalo, mais tempo perdido, até o limite do pacífico cidadão, já cansando das oportunidades ceifadas, das vidas perdidas, dos custos de jovens formados a buscar um emprego e um lugar ao sol, que lhe permita ao menos de forma digna contribuir para a grandeza da terra em que nasceu!