O CENÁRIO

O gato olhava maroto, o cão. E este olhava furioso, aquele. O gato tinha sorriso no olhar. O cão expelia pelos olhos restos de mágoa herdadas das quedas da vida.

Amor e ódio! Era o cenário!

O homem que passava, passos apressados rumo ao encontro da vida, por instantes afrouxou os passos para, sorrateiramente, contemplar um cenário no qual os seus passos, pelas estradas da vida, várias vezes tropeçou.

Por instantes o cão direccionou metade do seu olhar ao homem que da plateia esperava o desfecho da contenda. Mal do cão se desprendesse, por completo, do gato, a fúria do seu olhar. Seria a morte do artista! Na certa! Embora o gato levasse tudo na desportiva. Continuava a exibir o seu sorriso maroto.

- Porque olhas com essa cara d’espanto? – Perguntou o cão.

Há muito que se convencionou dizer que o cão é o melhor amigo do homem! Há muito que o homem e o cão saboream junto, o pão amassado pelos tormentos da vida. Há muito que o amor e o ódio discutem a primazia no palco da vida. E o cão sabia que era assim... O homem também...

... E o gato?

Também! E por isso sorria!

- Contigo aprendi a distorção da vida! Pagar pela mesma moeda! - Disse o cão. – Agora ficas aí com esse olhar de santo querendo censurar!

E de repente, os olhares do gato, do cão e do homem ficaram vocalizados num cartaz que dizia: Paz!

Como de milagre se tratasse!

E o gato maroto sabia que aquela palavra significava felicidade. E por isso sorria! E o cão furioso sabia que aquela palavra significava subtração d’angústia. Apesar de fingir que não sabia! E o homem com olhar de santo, que não era santo... sabia que aquela palavra significava desenvolvimento. Embora estivesse na origem de toda desordem e injustiças da vida! Porque de santo, nada tinha!

E do nada o cenário fez-se santo. Do nada? Nada disso! Deus era o mediador... Ao sorriso do gato juntou-se o sorriso do cão. Ao sorriso do gato e ao sorriso do cão juntou-se o sorriso do homem que com passos apressados rumava ao encontro da vida.

Coube ao cenário enterrar, naquele instante, o ódio. E juntos... juntaram os passos. E juntos... partiram ao encontro da vida.

Na esperança de uma vida melhor!