Fragmento

Por quê? Não sei. Não faz sentido ser bicho e querer trocar fluidos totalmente desnecessários à sobrevivência com outro bicho através de um orifício. Mas, quero te beijar.

No que é provavelmente o último dia de frio, parado nessa janela, rabisco pela última vez qualquer coisa (sub-cons-cien-te, como diria um desses especialistas) na umidade acumulada. E faço com calma, pois Deus sabe quando farei de novo — se é que farei de novo. São nessas horas,quando estou distraído sendo gente sozinho, é que admito involuntariamente o que há de mais constrangedor em mim.

Mas venho pensado a respeito nos últimos dias, apesar de que nunca com essas palavras. Pois você, mesmo sem saber, me deu isso. Uma distração. Aqui nessa enxurrada de ansiedade, de pensamentos diversos e dispersos, da qual não tenho controle e desço desenfreado, a ideia do seu beijo é um pequeno fragmento de terra firme no meio do caminho.

Sei que se você pudesse ler meus pensamentos, se assustaria com tudo isso. Mas, apesar do drama todo, só quero te beijar um dia desses, encostado em um muro de uma rua qualquer, entre tragos de cigarro e história banais de infância. Só. Não penso em seu corpo, em te ter mais que isso. Por quê? Não sei.