Rainha da noite

Rainha da noite, assim era apelidada a menina Antonieta. Morava num bairro calmo, tranquilo, sem muita agitação, numa cidade em via de desenvolvimento onde o desemprego era evidente e a procura pelo emprego era frequente no seio dos jovens.

O bairro do Consito tinha todas as condições para que Antonieta crescesse num ambiente dentro dos padrões morais exigidos pela sociedade e pela sua família, mas a ambição, a pobreza e as más amizades que tinha contribuíram para o seu ingresso na prostituição.

Deambulava pelas ruas da cidade do Dondo, trocando de homens como se fossem blusas. Envolveu-se com quase metade dos homens da cidade, tudo pelo dinheiro.

Ela nasceu numa família humilde, órfã de pai foi criada pela mãe, uma mulher batalhadora, que trabalhava arduamente vendendo tomates e verduras no Mercado Central, para garantir o sustento da sua família. Dona Margarida teve somente duas filhas, Zinha e Antonieta, sendo que a rainha da noite era a mais nova.

Zinha, diferentemente da Antonieta passava a maior parte do seu tempo ajudando a mãe no mercado e nos afazeres da casa. Mas quis o destino que ela conhecesse um homem cuja mãe não concordava com o relacionamento. Com muito esforço os dois foram-se relacionando, tendo como fruto desse amor controverso uma menina. Mesmo com a chegada da neta, dona Margarida não se alegrou devido a sua discordância com o relacionamento da sua filha com o jovem Tchicandula que, segundo dona Margarida tratava-se de um tremendo assaltante.

As brigas eram constantes entre mãe e filha até o dia em que Zinha decidiu tomar uma atitude diabólica. Depois de mais uma discussão com a mãe, ela despediu-se da filha e dos amigos dizendo que ia ao mercado comprar bananas, quando chegou ao mercado, ao invés de comprar tais bananas, comprou ratex.

Depois de ter comprado o veneno regressou a sua casa, em seguida ingeriu dois comprimidos grandes que reagiram de imediato no seu corpo. A sua pele começou a mudar de tonalidade, cada vez mais esbranquiçada e começou a perder ar. Quando a mãe chegou a casa, ela já estava estatelada no chão muito debilitada, dona Margarida desesperada pediu pelo socorro dos vizinhos que, de imediato levaram Zinha ao hospital, quando lá chegaram já era tarde, ela não resistiu e os médicos, nada mais podiam fazer.

Com medo de perder mais uma filha, dona Margarida não se cansava de aconselhar Antonieta a abdicar a vida que levava, ela queria ver a filha longe das casas nocturnas e que tivesse o foco na escola. Mas a filha não lhe dava ouvidos, continuou a pautar pelo mesmo comportamento. Já não parava em casa, passava a vida nas casas nocturnas prostituindo-se e bebendo frequentemente sem se importar com possíveis doenças que podiam advir desse comportamento de risco.

Alguns vizinhos e amigos próximos a família também a aconselhavam a parar com tais atitudes, porém tais conselhos constituíam uma tremenda chatice, pois segundo ela a vida não se limitava apenas em vender tomate e couve no mercado, há uma forma fácil de conseguir dinheiro e a via rápida que ela encontrou foi a de venda de sexo.

Foram quatro anos de intensa adrenalina, várias noites perdidas e várias doenças contraídas. Antonieta começou a perder peso, tossia com frequência, os fios de cabelo começaram a cair um por um e as manchas pretas na sua pele já eram notórias. Quando ela decidiu ir ao hospital, a doença já estava num estado avançado, foi diagnosticada soropositiva.

Não quis aceitar o resultado e foi por várias vezes resistente ao tratamento, sendo que a doença aos poucos foi-se agravando até o dia da sua partida, com apenas 16 anos de idade, deixando dona Margarida inconsolável, sem chão.

Glossário

Raatex - veneno usado para matar ratos.