O fim da violência
O assessor entrou ofegante no gabinete do presidente:
— Senhor presidente! Conseguimos! Não há mais violência nas ruas do país.
— Jura. Eu prometi. Eu sabia que daria certo.
— Sim senhor. O país está livre da violência!
— Pronto. Agora vamos seguir nosso plano de governo e acabar o analfabetismo!
— Primeiro precisamos resolver problemas pontuais, senhor!
— Que problemas?
— Os policiais, senhor, estão protestando em todo o país.
— Por quê?
— Com o fim da violência eles estão sendo demitidos em todo o país.
— Entendo. Vamos pensar numa maneira de resolver esse problema.
— E o dos fabricantes de equipamentos de vigilância e alarmes?
— O que eles querem?
— Eles não estão mais vendendo nada.
— Tudo bem, eles voam sobreviver.
— Estão pedindo a sua renúncia!
— Os vendedores de equipamentos eletrônicos?
— Não. Os fabricantes de carro.
— Mas por quê?
— É que antes um carro era roubado a cada minuto no Brasil.
— E agora não é mais. Isso é bom.
— Claro senhor! O problema é que como as pessoas não roubam mais os carros a gente vende menos. E tem ainda a questão dos parques e das bicicletas!
— O que tem isso?
— As pessoas não vão de carro pro trabalho e nos finais de semana vão para parques e praças. Elas estão seguras e por isso não vão mais para lugares fechados.
— Os fabricantes de carro não vão me derrubar. Não sozinhos.
— Também acho senhor, mas o problema é que eles estão aliados com a imprensa!
— Mas a imprensa não gostou do fim da violência?
— No início sim, mas sabe como é, depois de um tempo as emissoras, jornais e portais começaram a ficar sem assunto. A violência sempre vendeu bem.
— Mas nos acabamos com a violência, como pode ter tanta gente descontente?
— Ainda temos o problema das industrias de armas!
— Essa eu já imaginava.
- Pois, é. Por não ter mais violência não se vende mais armas, nem pro cidadão nem pro estado.
— Vamos resolver todos esses problemas e comemorar nos acabamos com a violência!
— Claro. O senhor tem uma reunião com a organização dos advogados.
— O que eles querem?
— Sem violência tem muito advogado sem causa. Eles querem o senhor fora.
— Esses desgraçados não entendem que o país é muito melhor sem a violência. Que agora o país vai voltar a crescer.
— Eu sei senhor e concordo com você, mas sempre tem alguém que fica descontente, como os agentes funerários por exemplos.
— Os agentes funerários?
— O país tinha mais de 170 assassinatos por dia, ou seja, 170 oportunidades de negócio, e isso tudo acabou e agora as pessoas estão demorando mais para morrer.
— A situação está muito feia?
— Tem o problema do congresso!
— Que problema?
— Grande parte dessas empresas que lucravam com a violência, apoiaram alguns parlamentares que agora pressionados se viram contra o senhor.
— Meu Deus! Pelo menos o povo está comigo?
— Em parte sim, mas tem muita gente descontente.
— Porque? Eu acabei com a violência.
— Mas com o fim da violência o desemprego aumentou. Seguranças particulares, socorristas, agentes da segurança, vigias, operários das fábricas de armas, além de que o senhor com o fim da violência já tem uma previsão de aumento da expectativa de vida do povo e terá que mexer novamente na previdência. Tivemos também que aumentar os impostos para poder ter mais recursos para investir na qualidade de vida do povo, porque agora, qualquer um quer estudar e estudando eles estão mais exigentes.
— E o que eu faço, meu caro assessor.
— Ou o senhor renuncia ou importa bandidos de outros países, pois com o fim da violência a sua carreira política está acaba.
O assessor saiu pela porta do gabinete e o presidente sentou em sua cadeira olhou para fora, suspirou profundamente e pegou o telefone para ligar para seu ministro de relações exteriores.