PRÁ AMÉLIA NENHUMA BOTAR DEFEITO

Desde que levantou tratou de arrumar a cama, varrer a casa, esfregar, tirar pó, lavar banheiros, polir, limpar vidros, jogar lixo, lavar, secar e passar roupas, bater tapetes, aguar as plantas, dar comida ao peixinho dourado, limpar cocô do cachorro, ir ao supermercado, arrumar a geladeira, fazer comida (sem esquecer da sobremesa), não parou um minuto sequer. Para não desleixar a aparência, malhou na academia por duas horas, tomou banho, escovou e penteou os cabelos, cuidou das unhas e da pele, maquiou-se, perfumou-se, calçou meias e sapatos finos e colocou vestido adequado. Feito isso, checou se todos os detalhes estavam perfeitos, de acordo com a vontade dele. Cinco minutos antes dele chegar, acomodou-se silenciosa e imóvel num canto da sala, e, confundindo-se com a decoração, mimetizou-se em indistinta peça da mobília. Orgulha-se de ser a perfeita mulher-objeto.
Jair Lopes
Enviado por Jair Lopes em 25/07/2017
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