HISTORIA DE UM GRANDE AMOR
HISTORIA DE UM GRANDE AMOR
Marcial Salaverry
Existem amores que sobrevivem à morte. Existem amores que não suportam essa separação definitiva, principalmente após uma vida de lutas e sacrifícios, principalmente após o amor lhes ter dado forças para suportar perdas irreparáveis.
Belmira e João, duas pessoas simples, cansadas da luta na cidade grande, resolveram tentar a vida no interior. Arranjaram um terreno no cerrado goiano, e lá ergueram aquela que seria sua casa, seu ninho de amor. Na realidade, um modesto casebre, feito de barro, dentro de suas parcas posses, e que eles procurariam melhorar com o correr do tempo. Esse o sonho de sua vida. Ambos confiavam em seu trabalho. E nessa certeza de um futuro melhor, entregaram-se ao trabalho com todas as forças que sua força de vontade exigia.
O início foi desalentador. A terra apesar de fértil, era de muito difícil trabalho para o plantio. Seu terreno era cercado por mato bravo, e tinham que tomar cuidado com os animais selvagens que sempre faziam incursões nas cercanias de sua morada, e destruíam o que com tanto trabalho tinham plantado. Mas não se deixavam vencer pelo desanimo, e pediam aos céus forças para vencer essa luta insana.
Para aumentar a tristeza, ainda viram um filho de apenas oito meses de idade, não resistir às agruras dessa vida dura, e partir para o lado de Deus. Enterraram-no em cova rasa. No dia seguinte, para desespero total, viram seus restos, devorados pelos tatus.
Mas nem o trabalho insano, nem o desespero dessa perda trágica lhes quebrou a coragem.
Aos poucos foram conseguindo realizar seus sonhos. Outros filhos e filhas tiveram, sem contudo jamais deixar de chorar por aquele que não conseguiram criar.
E a cada etapa superada, mais fortalecia seu amor. Mais e mais se amavam, e assim foram vivendo. Novas dificuldades, novos sustos, sempre superados. Nada poderia separa-los. Assim são os verdadeiros amores. Parece que quando as dificuldades são mais fortes, mais o amor se firma nos corações verdadeiramente enamorados, infundindo coragem para tudo enfrentar.
Foram 57 anos de uma união completa e feliz. Tudo que de mal lhes aconteceu, a força desse amor inquebrantável ajudou a superar. Criaram outros filhos, sempre lhes ensinando que nada pode vencer o amor, a força de vontade, o desejo de vencer na vida. E sempre levando na memória e dentro do coração aquele menino tão tragicamente perdido.
Mas o tempo é inexorável, e sempre cobra seu tributo. E estava escrito que nada mesmo poderia separar duas criaturas que tanto se amavam, e que tanta viveram juntos. A idade e uma doença insidiosa terminaram por vencer a resistência inquebrantável de Belmira, e ela partiu, deixando João mergulhado na mais profunda tristeza. A idéia de ficar sem Belmira desesperou João, e seu coração não resistiu à separação, pois na força desse amor ele sempre encontrou coragem para enfrentar as agruras da vida. Então, no dia seguinte ao da partida de Belmira, ele foi para sua companhia. Não resistiu à idéia de ficar sem sua amada esposa.
Continuariam sua vida, juntos na eternidade, sem dúvida. Assim estava escrito. Nada os separaria.
Possivelmente ao olharmos para o céu, veremos duas estrelas brilhando juntinhas.
Quem sabe não são Belmira e João?