DOUTOR JOSÉ EMILIANO – UM EXEMPLO DE CIDADANIA, QUE HOJE, INFELIZMENTE, É COISA ESCASSA EM NOSSO PAÍS

O senhor José Emiliano trata-se de um cidadão portador de personalidade bastante forte, daqueles, então, que se vangloriavam de colocar uma ideia na cabeça e dar um trabalho tremendo para desistir de seus pensamentos.

No entanto,compreendia uma pessoa extremamente íntegra, cumpridora, até demais, de seus deveres cívicos, sendo, portanto, bastante diferente da grande maioria dos políticos de nosso país, que viviam atolados num verdadeiro mar de lamas, sendo alvo de homéricos escândalos financeiros, pois, com grande freqüência, estavam sempre dilapidando o patrimônio público.

O doutor José Emiliano, como era conhecido o senhor José Braz Emiliano dos Santos, tratava-se, também, de uma pessoa honesta, educada e, extremamente, culta. Era um advogado,considerado de primeira qualidade, que, apesar de já ser aposentado por uma instituição pública federal, local onde prestara serviços, na qualidade de advogado, por mais de 38 anos, militava, ainda, como profissional da área de direito.

“É uma vergonha nacional... é decepcionante para todos nós brasileiros, vermos, de mãos atadas, um político se aposentar após 4 anos de serviços. Eu, como a maioria dos brasileiros, só me aposentei depois de cumprir uma longa caminhada de trabalho árduo. Esse benefício escroto dos políticos, me dar nojo e vergonha de ser brasileiro. E confesso a vocês que hoje tenho até vergonha de viajar para outro país por conta da minha cidadania” – o doutor sempre comentava, com bastante exaltação, muitas vezes alterando até o tom da voz, com os colegas de caminhada na praça, perto de sua casa, local onde quase todos os dias realizava as suas caminhadas.

Na realidade, o referido doutor era um cidadão querido por todos, uma vez que qualquer pessoa, independentemente de sexo, religião, raça e classe social, era, sem exceção, sempre tratada por ele com a finura que lhe era peculiar e com esmera educação. Sem sombra de dúvidas, aquele homem, de cerca de sessenta e poucos anos, não tinha palavras grosseiras para proferir, diante de qualquer situação, a nenhum semelhante seu. Na verdade, amava tudo que era proveniente da natureza.

A verdade é que, aquele homem, além de desempenhar as suas funções profissionais, a contento, e cumprir, com esmero, as suas obrigações de pai de família, arrumava, ainda, tempo para se preocupar com certas coisas públicas da cidade de João Pessoa, terra em que, atualmente, vivia com a sua família, capital do Estado da Paraíba, e cidade considerada pequena em consideração à grandiosa dimensão do nosso país Brasil.

E uma das grandes preocupações do bom advogado era, justamente, o cuidado que o mesmo tinha pela manutenção de uma praça pública perto de sua residência, local, que por sinal, vinha fazendo, ao longo do tempo, boas amizades, durante as suas frequentes caminhadas. Assim, todos os dias, logo cedo da manhã, este dava, com o seu cachorrinho, várias voltas ao redor do referido logradouro público, que tanto amava, sempre conversando com um e com outro, e observando, cautelosamente, a necessidade da realização de algum procedimento para a manutenção do bom cultivo das plantas. Desta forma, sempre estava realizando, no âmbito da praça, alguma tarefa, seja de poda, seja de pulverização das plantas, ou seja, ainda, de qualquer outra inerente ao saudável cultivo das árvores. A referida praça era, por doutor Emiliano melhor vista do que por àqueles que tinham a real obrigação de zelar por ela, que eram os gestores dos órgãos públicos, quando a máquina do setor público gastava fortunas de dinheiro numa estrutura, que quase sempre não funcionava como deveria funcionar.

O doutor Emiliano não se cansava de repetir aos amigos que caminhavam, na sua querida praça, que não se preocupava em gastar, com adubos e fertilizantes, além de outros materiais, para que as plantas daquela artéria pública, que ele tanto amava, fossem frondosas e bonitas. E assim, se via, constantemente, o bom homem trabalhando, logo cedo da manhã, devidamente paramentado com os apetrechos necessários, na manutenção das plantas da praça.

O senhor Perilo, mais conhecido por Primo, dado que a todo amigo este considerava como sendo um primo, cidadão que, todos os dias, costumava, também, caminhar, com o seu cachorrinho, pela praça, conhecia, perfeitamente, a postura do doutor Emiliano e não cansava de comentar com os amigos:

- Olha, Primo! Se todos os políticos deste país, agissem como o doutor Emiliano, se preocupando sempre com o descaso do poder público em nossa cidade, e em nosso país, sem ter, no entanto, obrigação nenhuma pra isto, ao contrário deles, que ganham milhões para se preocuparem com a coisa pública, e não fazem, na verdade, “caralho” nenhum, nós estaríamos numa boa. Não teríamos, com certeza, toda esta esculhambação que está havendo aqui, no nosso país. Estamos é observando que, na nossa pátria, quase todos os políticos, do grande escalão, meteram, descaradamente, as mãos no dinheiro público e nós estamos agora com um país quebrado, “sem eira nem beira”. Primo! Isto é um desaforo e estes caras só falam em milhões. Não é tostão, não, primo.

E todos, sem exceção, concordavam com o primo, inclusive, o Beto, um professor aposentado, que era, também, assíduo às caminhadas na praça e amigo do doutor Emiliano. O Beto era um indivíduo de temperamento, até certo ponto, explosivo, que não tinha o menor ressentimento em criticar, abertamente, ao seu modo de enxergar as coisas, a terrível situação econômica em que o país havia adentrado, exclusivamente, por conta da irresponsabilidade e da desonestidade de um considerável número de políticos e gestores públicos inescrupulosos.

Assim, num dia de inspiração, Beto comentara com o primo:

- Você tem toda a razão, primo. Um homem como o doutor Emiliano é, hoje em dia, uma joia rara neste país e nós estamos lascados hoje, justamente, por conta da ausência de homens políticos com esta linhagem. O que, infelizmente, temos visto são verdadeiros lotes de “sem-vergonhas” que estão no poder, ou que passaram por ele, de conluio com um monte de funcionários públicos escrotos que, juntos, meteram as mãos, com força, no dinheiro público e, com isso, levaram o nosso querido país a bancarrota. A minha opinião é a de que nenhum “porra” deste, que tenha metido as mãos no dinheiro público, deveria estar solto, com uma “tornozeleirazinha" de "merda” em casa. O usurpador do dinheiro público era pra estar na cadeia mesmo, em regime fechado, junto, por exemplo, com um cara que roubou uma lata de leite, num supermercado, pra dar de comer aos filhos, que estavam com fome; junto com o estuprador; junto com o assassino, ou seja, junto com os bandidos da laia dele, que descumpriram a lei e foram presos da forma que deveria ser. A lei deveria valer, igualmente, para todos, coisa que, infelizmente, não acontece aqui neste país.

Beto olhou para o primo, para sentir a receptividade de sua colocação, e continuou:

- Primo! O maior crime de roubo que eu considero é o do roubo do dinheiro público, pois não é tolerável um cara desviar o dinheiro, da arrecadação dos impostos, que estava destinado para a saúde, para a educação ou para a segurança do povo para comprar, por exemplo, pedras preciosas caras para presentear uma vadia qualquer que é amasiada com ele. Por ser um Prefeito, por ser um Governador, por ser um Deputado, por ser um Senador, por ser até um Presidente de um país, ou qualquer “merda” dessa, ninguém tem o direito de meter a mão no dinheiro público e fazer o que bem quer, não acha, primo?. Isto eu jamais aceitarei, primo. Eu te digo de fé pura, primo, que se eu tivesse o poder nas mãos, eu mostraria a um cabra safado, que assim procedera, “com quantos paus se faz uma cangalha”.

Aqui acolá, o doutor Emiliano cruzava com Beto, com quem sempre gostava de dialogar, e não perdia a oportunidade de comentar:

- Meu amigo, professor Beto! Você tá vendo aquele pé de laranja, logo ali?

- Estou vendo, doutor. Ele está bastante bonito.

- É Beto... ele está bem bonito, mesmo. Há uns quinze dias, eu fiz um tratamento nele, meu amigo. É aquela coisa, Beto... um pé de laranja tem muita utilidade e nós não podemos esperar pela vagareza do poder público para que a planta sobreviva. Já não basta, meu amigo, a nossa espera para vermos este país melhorar dessa crise terrível, coisa que, na verdade, vai demorar muito, viu Beto, pois se depender de nossas autoridades que, na sua maioria, estão quase todas atoladas na lama da corrupção, é melhor esperarmos sentados, ou melhor deitados, para não cansarmos.

O homem olhou para o amigo e continuou:

- Meu amigo, com todo este suplício por que passam o povo brasileiro, no momento, e com toda a desesperança, então, que estamos passando, enfim, com todo o stress que adquirimos, no dia-a-dia, a folha da laranjeira, Beto, é um calmante excelente e barato e não podemos, portanto, deixar uma plantinha desta morrer esperando por uma ação, digamos, a passos de tartaruga, do poder público.

- É isso mesmo, doutor. O senhor tem toda a razão do mundo – concordou Beto, com um ar sorridente.

- Você não sabe, Beto. Mas, outro dia, uma amiga minha estava com problemas de intestino e eu peguei algumas folhinhas de uma goiabeira que eu plantei na nossa praça e a orientei fazer um chá, que foi, na verdade, um santo remédio e ela ficou bastante alegre e agradecida.

Assim, imbuído do propósito de fazer o bem, sem esperar nada em troca, o doutor Emiliano era constantemente visto, pelos frequentadores da praça, pois sempre se encontrava fazendo alguma coisa por uma árvore já grande ou por um pé de alguma fruta recém-plantada por ele mesmo. Na verdade, tal gesto de cidadania, era, por todos, enaltecido, uma vez que, nuns tempos em que a corrupção e o descaso pela coisa pública se alastrava, em larga escala, em nosso país, a dedicação de um homem por uma causa nobre desta, era digna de elogios.

Ah! ... Quem nos dera, que os políticos, dirigentes de nosso país, venham chegar a incorporar, algum dia, espíritos de cidadania como o do doutor Emiliano.

É muito difícil disto acontecer, mas não é impossível, afinal acreditamos que o nosso Senhor Jesus Cristo esteja na causa pelo nosso país.

Roberto Vieira
Enviado por Roberto Vieira em 04/07/2017
Reeditado em 29/06/2020
Código do texto: T6045710
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