Ser da Noite - I
Naquela noite uma silhueta esguia surgiu das sombras da garagem de Aurélio, se esgueirou por um exíguo espaço entre o portão e a parede.
Parou na calçada.
Era noite de lua cheia. Um céu recheado de nuvens que marchavam em grandes volumes e um vento frio anunciavam um mau tempo pela manhã.
Ele ignorava tudo isso, afinal, era um gato de rua, um ser vivente qualquer, acostumado a rasgar sacolas de lixo e beber água nas poças ou nas calhas, a vagar pelos telhados e se atracar com outros bichos noturnos.
Era um sobrevivente das ruas, das noites.
A beleza do luar ou dias vindouros nada tinham de importância.
Apenas seguiu em passos silenciosos pela sarjeta.