Diálogos Cotidianos 2
O juiz, o caos e os jovens
- E aquele juiz? - Paulo inquiria Pedro tentando mostrar-lhe que seu sentimento radical e pensamento pessimista esbarravam diante de algumas figuras que traziam certa esperança ao país.
- O juiz? Ora, ele é o maior atraso dessa nação!
- Atraso, Pedro? Não seja incoerente! O sujeito caça com todas as suas forças os maiores corruptos dessa república!
- Para ser sincero, Paulo, o juiz atrapalhou tudo. Ele tirou a minha última esperança de refazermos esse país.
- Mas é justamente o que ele está fazendo, homem! Ele é a nossa única esperança!
- Discordo, meu caro.
- Discorda? Então me explica... - Paulo já estava impaciente com a cegueira de Pedro.
- Escuta, amigo, a saída para esse país era o caos absoluto. Sem o caos absoluto não conseguiríamos recomeçar com dignidade. A minha esperança era com o aumento da corrupção e isso estava acontecendo em passadas largas. A corrupção invadindo todos os segmentos da sociedade. Enquanto o juiz e outros apenas jogavam isso ao vento estava legal, mas quando começou a tentar punir os corruptores, ele se mostrou um mau leitor da história.
- Mau leitor? Ora, ele a compreendeu perfeitamente e faz história...
- Faz história pra gringo ver, amigo. O papel do juiz e sua trupe era apenas da divulgação absoluta. Mas eles quiseram ir mais longe. É compreensível essa ansiedade. Mas depois de um tempo ele deveria ter percebido que deveria deixar a coisa correr. Veja agora, ele prende e outro juiz solta. Não, Paulo, não é assim que se acaba com a corrupção em nosso país. É ela mesma que tem que se autodestruir. Os raros homens e mulheres bons devem apenas cercá-la, divulgá-la e acompanhar seus passos. Quando ela atingir a exaustão absoluta, aí sim, lança-se as armadilhas!
Mateus e João aproximaram-se dos dois falantes com bastante curiosidade. Mateus foi o primeiro a falar e em seguida João.
- O senhor realmente acha que esperar pelo caos absoluto seria a melhor estratégia? - Perguntou Mateus deixando à mostra sua ingenuidade nesses assuntos.
- Sim, garoto. Quando o mal está em curso numa velocidade avassaladora é inútil se colocar à frente; certamente você será esmagado.
Mateus se calou e ficou a refletir. João então emendou o amigo.
- Bem, isso pode até fazer sentido em se tratando de poesia, mas a realidade exige tomadas mais severas. - Disse com malícia o jovem acadêmico.
- Sem dúvida, jovem. Não há mais severidade do que a indiferença absoluta!