MADAME FLIZONT

Ela esteve sempre imponente no alto de seus quase dois metros de altura. A roupa simulava uma farda do exército e um quepe militar. Defronte ao pátio São Goncalo ela presenciou muitos fatos cotidianos e importantes da história brasileira. Os quase quarenta anos de existência dela permitiram assistir passeatas, tumultos e protestos de vários movimentos sociais. Houve manifestações contra e pelo fim da Ditadura Militar, depois protestos para a Anistia Geral. Ela viu uma cena de um estudante sendo morto pelos militares. Durante a marcha contra Collor alguns manifestantes ainda mancharam o rosto dela com tintas verde e amarelas. Mas após alguns anos ela viu muitos daqueles estudantes se transformarem em políticos corruptos e ainda se aliarem ao próprio político alagoano. Diante do pátio ela viu também as disputas locais entre ambulantes (que tentavam se instalar no local), e logicamente, as prisões deles. Ela assistiu várias campanhas eleitorais com artistas renomados (interessados nos incentivos daqueles parlamentares). Mas também artistas de rua vendendo os seus produtos milagrosos, flores e discos piratas. O pátio lotava sempre nas festas da padroeira e carnaval. Esses momentos traziam mais alegria para a doce e alegre senhora. Porém ela viu muitas cenas tristes de brigas entre drogados e cafetões disputando espaços. No entanto o que se via com mais intensidade envolvia a disputa entre mendigos e prostitutas. Mas ela nada falava, comentava ou recriminava sobre aqueles fatos cotidianos. Ela distribuia sorrisos para tudo e para todos, principalmente aos transeuntes que faziam selfies do seu lado. Certa vez um grupo de turistas ficou curioso para saber sobre aquele mulher parada diante do enorme pátio. De repente surgiu um "guia turístico" bêbado que revelou: - Esta é e sempre foi a estátua da Madame Flizont, a maior professora de francês que a cidade de Promissão já teve em toda a sua história. Alguns passantes ainda perguntaram a causa da alegria no rosto da estátua. O bêbado falou que respondia aquela pergunta, mas somente após a segunda rodada da cachacinha Jerereba. Ele guardaria aquele "segredo" para " arrancar" mais dinheiro dos turistas. Que cara esperto!.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 18/06/2017
Reeditado em 21/06/2017
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