Dia difícil
Para Eduardo aquele havia sido um dia difícil.
Ouvira muito; fora obrigado a falar muito mais.
À noite as lembranças do dia tornaram-se vozes que em sua cabeça misturavam-se numa cacofonia sem sentido e irritante.
Em casa, altas horas da madrugada, acordou sobressaltado!
Ouvira a voz do chefe lhe cobrando os últimos relatórios sobre sabe-se lá o quê! Não os tinha, ele não os fizera, ele...
Correu os olhos arregalados por toda extensão da cama bagunçada e do quarto. Para seu alívio tudo que havia ali (além da costumeira escrivaninha e o guarda-roupa negro que a meia luz tinha uma aparência imponente) era uma criatura de dois a três metros de altura, cabelos grisalhos e compridos, olhos vermelhos em forma de fenda e com o corpo coberto de espinhos que num tom de voz cacarejante dizia que levaria sua alma.
Deitou-se novamente: Por sorte tinha uma alma para entregar.