Napoleão e a Caçada

Napoleão encarava sua presa intensamente. A asquerosa criatura se escondia debaixo do sofá, fora do alcance das garras de Napoleão. Mas Napoleão não iria desistir tão fácil, e continuava encarando sua presa em busca de uma oportunidade. A criatura esticava suas antenas para fora do sofá, e Napoleão sabia que aquilo significava que ela poderia estar prestes a sair a qualquer momento.

Depois do que pareceu uma eternidade, a criatura deu seu primeiro movimento. Ela tentava passar rapidamente para a cozinha, onde poderia encontrar comida e mais esconderijos, entretanto sua agilidade não era párea para a de Napoleão. Com um pulo rápido, ele usou suas patas dianteiras para segurar a criatura. Mas ela continuava a se mexer. Quando ela parecia que estava para escapar, Napoleão a esmagava novamente e a dominava. Com o tempo, ela parou de resistir e aceitou sua dominação.

A vitória estava declarada. Napoleão tinha total controle sobre sua presa. Hoje o caçador saiu triunfante. Estava cheio de si e satisfeito com sua caçada. Então decidiu que tinha que se mostrar para a humana da casa. A humana que costumava lhe dar comida se localizava em frente ao computador em seu quarto, como de costume, mas seus pés estavam próximos do chão, o que facilitava o trabalho de Napoleão.

Usando toda sua habilidade para manusear a criatura dentro de seu domínio até os pés da humana, Napoleão se aproximou. Nunca tinha visto aquela humana caçar, então presumia que estivesse com fome, com certeza havia de ficar muito agradecida pela presa entregue por Napoleão em seu momento de generosidade. Napoleão ficou exatamente embaixo dos pés da humana, que ainda não reagia a sua presença.

- Miau, miiiau miau. – “Aqui está sua comida”, disse Napoleão, enquanto soltava a criatura sob os pés da humana.

A criatura avançou sob os pés dela, esfregando seu corpo neles enquanto seguia para um dos cantos do quarto. A humana reagiu a sensação, e se levantou num movimento brusco.

- UMA BARATA!!! – Ela reagiu, levantando seus pés e subindo em cima da cadeira em que estivera sentada.

Napoleão ficara confuso com essa reação, enquanto a humana olhava para Napoleão com olhos misturados de medo e raiva. A criatura estava parada em um dos cantos do quarto, tentando esconder sua presença.

Depois de muito tempo, a humana se acalmou (na medida do possível) e tentou sair rapidamente do quarto. Napoleão não entendeu porque ela parecia com medo da criatura, que apesar de veloz e furtiva, não teria como apresentar uma ameaça a ela. Um tempo depois, a humana retornara com uma vassoura.

Um duelo intenso se seguiu depois, com a humana tentando retirar a criatura do quarto usando sua arma enquanto a criatura tentava resistir. Vários minutos depois, a humana saiu vitoriosa. Mas Napoleão não ficara impressionado, pois ele havia feito um trabalho muito mais eficiente em vencer a criatura.

Ao chegar de volta ao quarto, a humana deu um suspiro, mas de repente olhou para Napoleão com raiva.

- Napoleão!!! Seu!!! – Ela parecia que ia avançar em cima de Napoleão, e este rapidamente usou sua agilidade para fugir pela janela.

Era isso que significava ingratidão, pensou Napoleão. Seu nobre gesto de generosidade foi devolvido com gritos. Como se alguém tivesse cuspido no presente que deu.

Naquele momento, Napoleão se decidira. Iria fugir de casa. Não sabia para onde iria, mas não poderia continuar morando ali. Seu orgulho não o permitiria. O tempo que passou ali tinha sido prazeroso, mas parece que havia chegado a hora de partir.

- Napoleão... – Entretanto, enquanto ainda estava nos arredores, Napoleão ouviu a humana falando, seu tom já não mostrando a mesma raiva de antes.

Achou que seria justo visitar o quarto pelo menos uma última vez, então voltou com cautela para escutar o que ela teria a dizer.

- Você estava com fome, certo? – A humana falava enquanto colocava comida fresca onde Napoleão geralmente comia.

Parece que estava propondo uma oferta de paz. Napoleão obviamente não seria persuadido tão facilmente, mas não rejeitaria comida de graça. Então se aproximou com receio, pois afinal também poderia ser uma armadilha. Olhou nos olhos da humana, depois continuou em direção a comida e começou a comer.

Ficou satisfeito com a comida apresentada. E quando menos esperava, a humana começou a acariciar seu pêlo enquanto comia. Combinando essas duas coisas, a sensação era bem agradável. Napoleão aproveitou o momento aconchegante.

Após terminar a refeição, Napoleão refletiu e decidiu perdoar a humana. Obviamente, não tinha intenção de perdoá-la uma próxima vez. Mas por hora, decidiu que ficar por ali seria de fato a melhor opção. Tinha comida e carinho de graça, afinal. Pensando nos acontecimentos anteriores, Napoleão concluiu que talvez apenas tivesse escolhido a presa errada. Na próxima vez, decidiu que iria atrás de um roedor, ou de um sapo, para entregar a humana. Certamente ficaria satisfeita com uma das escolhas.

RCS
Enviado por RCS em 16/06/2017
Código do texto: T6029419
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