Morador de rua morre de frio em Marília
A noite veio chegando de mansinho, e os últimos raios de sol morriam no horizonte. Um vento frio tomava conta de toda cidade, e todos apressadamente voltavam para suas casas,e em pouco tempo tudo estava impregnado de solidão. Junho chegou trazendo consigo: chuva,frio,ventos e ventanias, Junho para mim personifica maus agouros, pensei que talvez em breve partirei, e todo sofrimento cessará.
Meus amigos de rua o Pedro,o João e o Antônio, cada um procurava se abrigar em um lugar mais quente para passar a longa noite que parecia nunca ter fim. Uns foram dormir ao pé da Catedral São Bento, outros se amontaram na antiga estação ferroviária.
Confesso que nessa noite fria e mórbida, estou muito cansado, sinto me fraco, parece que tenho febre,às vezes começo a tossir, sinto um forte desejo de tomar uma sopa quente,um chá escaldante para limpar a garganta que dói.
Não tenho nenhum centavo, o que me resta apenas é um pedaço de pão duro e uma garrafa de água. E com muito esforço consegui comer parte do pão, o restante partilhei com um casal de pombas que me rodeava.
Já estava escuro e febre aumentava, com isso frio parecia muito frio, enrolei-me nos parcos e sujos cobertores e achei um lugar para passar a noite no Terminal Urbano de Marília. A noite avançada e o frio aumentava, e já não havia barulho de pessoas, carros e ônibus, apenas havia um barulho infernal dos ventos uivantes.
Abri meu saco e vi uma velha fotografia, ali estava eu, o Renato, ainda jovem, bonito e cercado pela família. O vício, as más companhias e minhas escolhas erradas, jogou me nas margens da vida.Confesso que sou resultado de minha escolha.
E por algum tempo, lembrei-me do tempo que eu era feliz, às lágrimas rolavam pelos olhos e pelo coração e já era madrugada e o maldoso frio aumentava, e os cobertores não esquentava.
E eu tremia de frio, e não tinha forças para pedir ajuda, também não havia ninguém por ali e se houvesse certamente não me ajudaria,correria com medo, afinal morador de rua é repugnante causa pavor. E meu quadro foi piorando, e fui delirando e meu corpo tremia, minha alma gemia, e aos poucos fui morrendo com hipotermia.
E pela manhã o corpo foi encontrado enrolado nas cobertas, por Leonardo Moreno, o socorro foi chamado, mas já não podia fazer mais nada, já não havia sopro de vida. A polícia foi acionada e não foram encontrados sinais de violência, o corpo foi removido e assim termina a história de mais um indigente,que parte sem flores, sem família e sem choro.