Memórias de um empurrador de árvore [conto]

Nunca entendi porque a Cláudia não gostava de comer queijo ralado barato. O macarrão podia ser uma massa qualquer de ovos, o molho de saquinho com catchup, a salsicha podia ser qualquer uma, mas o queijo tinha que ser faixa azul. Se não fosse o legítimo ela não comia e ficava emburrada. Era quase uma afronta. Uma vez o pai dela disse que ela era igual a mãe dela, só queria coisa de marcas famosas. Mas isso nunca fez muito sentido. Ela adorava chocolate ruim. Cheguei a gastar mais com essa exigência que com todos os outros ingredientes da macarronada juntos. E estamos falando de um momento da vida onde comer uma barra de chocolate ruim era um luxo.

A gente se conheceu na faculdade. Eu fazia administração e ela publicidade. Na verdade foi trabalhando. Ambos precisávamos de uma bolsa pra viver, e a biblioteca precisava de monitores. No alto dos meus 19 anos nunca tinha estado tão perto de alguém como a Cláudia. Vibrante, bonita, inteligente, confiante. Queria passar o resto da vida com ela. Não tenho a menor ideia do que ela via em mim. A gente ficava conversando a maior parte do tempo sobre os problemas da minha família, e eles não eram interessantes. Mas ela dava risada, e eu também. Nós estávamos nos tornando amigos, e aquilo me enlouquecia.

Nunca tinha tido um namoro sério. Tinha ficado com cinco garotas na vida e transado só com uma. A Camila era uma amiga da escola. Nenhum de nós dois tinha uma segunda opção, então a gente acabou ficando umas vezes. Era estranho. Nós mal nos falávamos na escola, mas no fim do churrasco a gente sempre acabava se beijando. Transamos no dia da festa de formatura, mas só eu era virgem. Tudo foi muito estranho também. Na cabine do banheiro do salão onde era a festa. De repente ela abriu minha calça e montou em cima de mim e eu tava todo gozado. A Márcia, que era melhor amiga dela, estava transando com o Carlos na cabine do lado. Pensando agora acho que elas tinham combinado tudo aquilo.

Enfim, mulheres não eram minha especialidade. Não sabia muito bem o que fazer com a Cláudia. Passei horas pensando em como ia convidar ela para um encontro. Depois de um tempo que a gente estava namorando ela me contou que sempre esperou eu convidar ela para sair, chegou até a pensar que eu não queria nada com ela. Lembro que em uma sexta-feira cheguei decidido. Na quinta a tarde tinha perguntado para ela se ela ia numa festa de república que ia ter na sexta. Ela tinha dito que não sabia, que ninguém tinha chamado ela. Mal dormi aquela noite arrependido de não ter convidado ela aquela hora.

Apesar de toda a minha certeza passei a maior parte da manhã me escondendo dela com vergonha de mim mesmo por ter vergonha de chamar ela para festa. Até que uma hora ela sentou do meu lado na bancada e falou: “Você tá fugindo de mim?” Respondi tremendo e suando: “Não, estou pensando numa forma de te convidar para ir comigo na festa hoje.” Ela riu e disse que “sim”. Eu ri e disse “que legal”. Passamos o resto daquele dia sem se falar direito. As vezes a gente se olhava e ria, o que para mim significava que eu estava no caminho certo.

Combinamos de se encontrar num posto de gasolina perto da republica onde ia ser a festa. Tinha me oferecido para passar na casa dela, mas a Cláudia que sugeriu o posto e só concordei. Na festa a cerveja quebrou todas as nossas barreiras de timidez e vergonha antes da segunda lata. Nenhum de nós dois era muito acostumado com bebida e rapidinho já estávamos rindo de qualquer coisa que qualquer um falasse. Até dancei com ela e algumas amigas dela umas músicas toscas para parecer descolado. Não demorou muito para a gente começar a se pegar pelos cantos.

Não sei dizer muito bem como chegamos a conclusão de que íamos para casa dela, mas nós fomos. A garota que morava com ela estava vendo um filme com o namorado na sala, e quando percebi já estávamos os dois pelados se agarrando compulsivamente na cama dela. Estava louco de tesão. Só subi em cima dela e comecei a bombar o mais rápido que conseguia. Ela gemia cada vez mais alto e quando ela gritou que ia gozar meu pau explodiu e esporrei em cima dela toda, e na cama depois que ela começou a desviar. Peguei minha cueca e tentei limpar ela, mas ela foi tomar um banho. Me vesti e fiquei deitado vendo aquele teto girar.

Depois disso namoramos por quase quatro anos. Aprendi que além de queijo faixa azul a Cláudia gostava que eu gozasse dentro da camisinha para evitar a sujeira. Isso faz um bom tempo já. A gente se formou, ela foi fazer mestrado na Europa e eu passei num concurso público. A última vez que vi ela foi um pouco antes de ela viajar. Trocamos dois ou três e-mails nos primeiros meses. Ela tinha tido uns problemas pra se adaptar mas logo ficou bem. Nunca mais tive notícias da Cláudia nem daqui e nem de lá. Outro dia acho que cruzei com ela na rua. Ela não me reconheceu. Também não tenho certeza se era ela.